Salazar aprovaria, certamente, as
medidas do actual Ministro das Finanças de redução dos salários e de cortes na
Saúde (ele chegou a por os hospitais públicos a dar lucro), na Educação (fechou
escolas), na Cultura, na Segurança Social (que no seu tempo se limitava
praticamente à distribuição das sobras dos ranchos nas traseiras dos quarteis).
Mas, nunca aceitaria o desmantelar da função pública em que o actual
governo parece estar empenhado, nem em vender património para resolver
problemas de deficit. Ele manteve atrasado o Povo Português, mas procurou
sempre (nalguns casos cegamente) defender os interesses do Estado Português.
Certamente se arrepiaria com a ideia de entregues à guarda de entidades
privadas os arquivos secretos nacionais, medida que nos dizem agora não ter
sido decidida, mas estar simplesmente a ser ponderada (talvez pelo ministro
Relvas).
Salazar criou uma Censura que
atrofiou o Povo português durante 30 anos, mas não iniciou a prática de se
apoiar em estudos secretos (de valor muito duvidoso e custos
elevados) para impor decisões altamente controversas como factos
consumados .
A
privatização da ANA é, sob este aspecto, um caso paradigmático que merece
uma muito especial e urgente atenção.
Portugal tem condições excepcionais
para construir em Alcochete, com custos relativamente baixos, um
aeroporto vértice da futura rede de malha larga da aviação comercial. Ou
seja, um hab ponto de trânsito dos passageiros da América do Norte
para o Sul de África, e da América Latina para a Europa do Leste. Devemos
esta possibilidade a Afonso Henriques que fez de Portugal um
país independente, e a D. Carlos que reservou para um polígono de
Artilharia em Alcochete terrenos planos, que ainda hoje pertencem ao
Estado (não sei se directamente, se por intermédio da ANA). Se a
não utilizarmos, Lisboa ficará a ser pouco mais do que o terminal de uma
pequena linha aérea regional.
O planeamento de toda a
Península de Setúbal deve ser pensado tendo em conta, como polo de
desenvolvimento um aeroporto de 4 pistas em Alcochete, que deverá
ser construído por fases. Se a privatização da ANA for para diante
e se não houver o cuidado de dela excluir o direito de construir este
aeroporto, o poder de decisão sobre este planeamento fica nas mãos de quem a
comprar.
E para quem considere que os
privados gerem sempre melhor, deve ser lembrado que grandes companhias de
aviação podem estar interessadas em comprar a ANA para impedir, ou pelo
menos retardar, a construção de um hab em Alcochete.
De momento, o que apareceu nos jornais,
foi a notícia de que o Governo tinha decidido utilizar a base do Montijo como
aeroporto complementar da Portela. Com base em que estudos? Feitos por
quem e quando? Além de lançar a confusão sobre todas as ideias de
planeamento da Península de Setúbal e sobre as futuras
ligações ferroviárias da Margem Norte à Margem Sul, esta notícia tem o
efeito imediato de baixar o preço de venda da ANA.
(Diga-se de passagem que o lucro
que, segundo os jornais, o Governo pretende encaixar com a venda da ANA,
da ordem dos 2 mil milhões de euros, cerca de metade da redução que
se procura conseguir no deficit de 2013, só permite retardar
de alguns meses as dificuldades financeiras do país. Há, assim, a
esperança de que a Comunidade Europeia desaconselhe, ou proíba mesmo,
esta decisão de trocar uma possibilidade imensa para o
futuro desenvolvimento da Economia do país, por uma pequena e não
renovável vantagem financeira no próximo ano).
Mas há mais a dizer. Todos os que
se debruçaram sobre o problema dos aeroportos na metade Sul do país, e alguns já
o fazem há mais de 10 anos, sabem que a utilização do Montijo como
aeroporto complementar da Portela tem grandes contra indicações. Em
qualquer caso, nem o Montijo, nem a Portela servem para um hab. A
hipótese do Montijo foi imediatamente excluída quando se procuraram
alternativas na Península de Setúbal a um aeroporto na Ota.
A proposta do Governo de
utilização do Montijo como aeroporto complementar da Portela é,
assim, a meu ver, uma proposta basicamente errada, e adicionalmente
errada neste momento, porque, talvez durante uma década, não
é necessário nenhum aeroporto complementar para a Portela e, porque,
depois, será mais barato começar a fazer novas pistas em
Alcochete do que fazer as obras de adaptação das pistas e instalações do
Montijo para poderem servir para um aeroporto complementar. Esta é,
obviamente, uma opinião que, para poder ser revista, exige que os estudos em
que se baseou o governo sejam divulgados.
António Brotas
Co-autor do livro "O Erro da Ota”
PS - Este e-mail é enviado,
hoje, em BCC para vários jornais, porque o problema das
privatizações tem sido, a nosso ver, insuficientemente focado
pela Comunicação Social Portuguesa. e o momento é oportuno porque
amanhã chega a Lisboa a Chanceler Merkel acompanhada por empresários alemães.
Estes empresários são bem vindos se vierem contribuir para um
real desenvolvimento da Economia portuguesa, mas não se,
aproveitando uma situação difícil, vierem para comprar a preço de
saldo patrimónios e potencialidades que pertencem ao país. Se algum
jornal desejar publicar este e-mail, no todo ou em parte, como
"carta ao Director", ou algum "blogue" o desejar
referir, agrada-nos bastante. A.B.
2 comentários:
Custa-me uma imensa dot ter que dizer o seguinte: Salazar - à sua maneira arrevesada - defendeu melhor Portugal do que este calamitoso Governo PSD/CDS.
Passos Coelho e Paulo POrtas formam a pior equipa gobvernativa da Democracia e estão a destruir deliberadamente o país!
Saudações
Amiga São,
É bem verdade o que disse pois actualmente a maioria dos (des)governantes só pensam neles e nos seus apaniguados... É uma vergonha e um desaforo aquilo que nos têm feito!
Beijinhos amigos.
Enviar um comentário