"Vós que lá do vosso império, prometeis um mundo novo...CUIDADO, que pode o povo, querer um mundo novo a SÉRIO!" In: António Aleixo

09/12/2012

SALAZAR E AS PRIVATIZAÇÕES



    

Salazar aprovaria, certamente, as medidas do actual Ministro das Finanças de redução dos salários e de cortes na Saúde (ele chegou a por os hospitais públicos a dar lucro), na Educação (fechou escolas), na Cultura, na Segurança Social (que no seu tempo se limitava  praticamente à distribuição das sobras dos ranchos nas traseiras dos quarteis). 
Mas, nunca aceitaria o desmantelar da função pública em que o actual  governo parece estar empenhado, nem  em vender património para resolver problemas de deficit. Ele  manteve atrasado o Povo Português, mas procurou sempre (nalguns casos cegamente) defender os interesses do Estado Português. Certamente se arrepiaria  com a ideia de entregues à guarda de entidades privadas os arquivos secretos nacionais, medida que nos dizem agora não ter sido decidida, mas estar simplesmente a ser ponderada (talvez pelo ministro Relvas).
    Salazar criou uma  Censura que atrofiou o Povo português durante 30 anos, mas não iniciou a prática de se apoiar em  estudos secretos (de valor muito  duvidoso e custos  elevados) para  impor decisões altamente controversas como factos consumados  .
     
    A privatização da ANA  é, sob este aspecto, um caso paradigmático que merece uma muito especial e urgente atenção.    
    
    Portugal tem condições excepcionais para construir  em Alcochete, com custos relativamente baixos, um aeroporto vértice da futura rede de malha larga da aviação comercial. Ou seja,  um hab ponto de trânsito dos passageiros da América do Norte para o Sul de África, e da América Latina para a Europa do Leste.  Devemos esta possibilidade  a Afonso Henriques  que fez de Portugal um  país independente, e a D. Carlos que reservou para  um polígono de Artilharia em Alcochete  terrenos planos, que ainda hoje pertencem ao Estado (não sei se directamente, se  por intermédio da ANA).  Se a não utilizarmos, Lisboa ficará a ser pouco mais do que o terminal  de uma pequena linha aérea regional.
      
    O planeamento de toda a  Península de Setúbal deve ser pensado tendo em conta, como polo de desenvolvimento um aeroporto de  4 pistas em Alcochete,  que deverá  ser construído por fases. Se a privatização da ANA  for para diante e se não houver o cuidado de dela excluir o direito de construir este aeroporto, o poder de decisão sobre este planeamento fica nas mãos de quem a comprar.   
    E para quem considere  que os privados gerem sempre melhor, deve ser lembrado que  grandes companhias de aviação podem estar interessadas em comprar a ANA  para impedir, ou pelo menos retardar, a construção de um hab em Alcochete.   
   De momento, o que apareceu nos jornais, foi a notícia de que o Governo tinha decidido utilizar a base do Montijo como aeroporto complementar da Portela. Com base em que estudos? Feitos por quem e quando?  Além de lançar a confusão  sobre todas as ideias de  planeamento da Península de Setúbal  e sobre as  futuras  ligações ferroviárias da Margem Norte à Margem Sul,  esta notícia tem o efeito imediato de baixar o preço de venda da ANA.
    (Diga-se de passagem que o lucro que, segundo os jornais, o Governo pretende encaixar com a venda  da ANA, da ordem dos 2 mil milhões de euros,  cerca de metade da redução  que se procura  conseguir  no deficit de 2013, só  permite retardar de alguns meses as dificuldades financeiras do país.  Há, assim,  a esperança de que a Comunidade Europeia  desaconselhe, ou proíba mesmo, esta decisão de trocar uma possibilidade imensa para  o futuro desenvolvimento  da  Economia do país, por uma pequena e não renovável vantagem financeira no próximo ano).
    Mas há mais a dizer. Todos os que se debruçaram sobre o problema dos aeroportos na metade Sul do país, e alguns já o fazem há mais de 10 anos, sabem que  a utilização do Montijo como  aeroporto complementar da Portela tem grandes contra indicações. Em qualquer caso, nem o Montijo, nem a Portela  servem para um hab.  A hipótese do Montijo foi  imediatamente excluída quando se procuraram alternativas na Península de Setúbal a um aeroporto na Ota.
    
    A proposta do Governo de  utilização do Montijo como aeroporto complementar da Portela  é, assim, a meu ver,  uma proposta basicamente errada, e adicionalmente errada  neste momento,  porque, talvez durante uma década,  não é necessário nenhum aeroporto complementar para a Portela e,  porque, depois, será mais barato começar a fazer  novas pistas em Alcochete do que  fazer as obras de adaptação das pistas e instalações do Montijo para poderem  servir para um aeroporto complementar.  Esta é, obviamente, uma opinião que, para poder ser revista, exige que os estudos em que se baseou o governo sejam divulgados.  

 António Brotas
 Co-autor do livro "O Erro da Ota”

 PS - Este e-mail é enviado, hoje, em BCC  para vários jornais, porque o problema das privatizações tem sido, a nosso ver,  insuficientemente focado   pela Comunicação Social Portuguesa. e o momento é oportuno porque amanhã chega a Lisboa a Chanceler Merkel acompanhada por empresários alemães. Estes empresários são  bem vindos se vierem contribuir para  um real  desenvolvimento da Economia portuguesa, mas não se, aproveitando uma situação difícil, vierem para  comprar a preço de saldo patrimónios e potencialidades que  pertencem ao país.  Se algum jornal desejar publicar este e-mail, no todo ou em parte, como "carta ao Director", ou algum "blogue"  o desejar referir, agrada-nos bastante. A.B.

2 comentários:

São disse...

Custa-me uma imensa dot ter que dizer o seguinte: Salazar - à sua maneira arrevesada - defendeu melhor Portugal do que este calamitoso Governo PSD/CDS.

Passos Coelho e Paulo POrtas formam a pior equipa gobvernativa da Democracia e estão a destruir deliberadamente o país!

Saudações

Luis disse...

Amiga São,
É bem verdade o que disse pois actualmente a maioria dos (des)governantes só pensam neles e nos seus apaniguados... É uma vergonha e um desaforo aquilo que nos têm feito!
Beijinhos amigos.