"Vós que lá do vosso império, prometeis um mundo novo...CUIDADO, que pode o povo, querer um mundo novo a SÉRIO!" In: António Aleixo

24/02/2011

Era no tempo em que...


Era no tempo em que, no palácio das Necessidades, ainda havia ocasião para longas conversas. (mas podia passar-se hoje...).
Um jovem diplomata, em diálogo com um colega mais velho, revelava o seu inconformismo. A situação económica do país era complexa, os índices nacionais de crescimento e bem-estar, se bem que em progressão, revelavam uma distância, ainda significativa, face aos dos nossos parceiros. Olhando retrospetivamente, tudo parecia indicar que uma qualquer "sina" nos condenava a esta permanente "décalage". E, contudo, olhando para o nosso passado, Portugal "partira" bem:
- Francamente, senhor embaixador, devo confessar que não percebo o que correu mal na nossa história. Como é possível que nós, um povo que descende das gerações de portugueses que "deram novos mundos ao mundo", que criaram o Brasil, que viajaram pela África e pela Índia, que foram até ao Japão e a lugares bem mais longínquos, que deixaram uma língua e traços de cultura que ainda hoje sobrevivem e são lembrados com admiração, como é possível que hoje sejamos o mais pobre país da Europa ocidental.
O embaixador sorriu, benévolo e sábio, ao responder ao seu jovem colaborador:
- Meu caro, você está muito enganado. Nós não descendemos dessa gente aventureira, que teve a audácia e a coragem de partir pelo mundo, nas caravelas, que fez uma obra notável, de rasgo e ambição.
- Não descendemos? - reagiu, perplexo, o jovem diplomata - Então de quem descendemos nós?
- Nós descendemos dos que ficaram por aqui...

Sem comentários!!!

3 comentários:

Lidia Ferreira disse...

Meu querido , esse texto me deixou de boca aberta rsrs maravilhoso
bjs

A. João Soares disse...

Caro Luís,

Este raciocínio do experiente embaixador não é novidade. Quando se fala do êxito dos nossos emigrantes que são muito apreciado pelas suas qualidades de trabalho e de método, na gestão das suas vidas particulares e profissionais, ao contrário daquilo que se passa por cá, costuma dizer-se que saíram os melhores, os que não se conformaram ao silêncio apático e abúlico. Os nossos emigrantes, tal como os navegadores, procuraram cortar as amarras e saltar a barreira e ir para um futuro melhor. Usaram o «direito à indignação» muito referido por Mário Soares há alguns anos.
Os nossos emigrantes mostraram que nos portugueses, nalguns portugueses, há desejo de se realizarem, tal como mostraram os tunisinos e os egípcios e estão a mostrar os líbios, apesar de estes estarem a arriscar serem todos massacrados por um louco que se considera dono da seara e que todos os cidadãos válidos e lúcidos têm que ser eliminados com pesticidas poderosos...

Os portugueses esclarecidos devem fazer renascer o espírito que tornou Portugal maior, com os descobrimentos e com a emigração. Pior do que a revolta dos «maus» é o silêncio apático dos «bons».

Um abraço
João
Do Miradouro

Luis disse...

Caríssimos Amigos,
Repetindo as palavras de Paula Teixeira da Cruz: " ... E nós aqui? Verdade que vivemos em Democracia imperfeita. Mas verdade também temos factores sociais que nos aproximam dos países a que nos referimos: desemprego, principalmente nos jovens, pobreza, desigualdades sociais, subida dos preços em bens essenciais e redes sociais (que já marcaram uma manifestação para o dia 12 de Março).O primeiro-ministro, em constante campanha eleitoral, dirá: 'profetas da desgraça, traidores à Pátria, gente sem educação',como sempre diz quando dele se discorda. Mas a realidade que aí vem vai ser mesmo muito, muito bruta".
Esse é o meu grande receio...
Um abraço amigo e solidário.