"Vós que lá do vosso império, prometeis um mundo novo...CUIDADO, que pode o povo, querer um mundo novo a SÉRIO!" In: António Aleixo

19/06/2011

Esta é de omem!


Espantam-se? Não se espantem. Lá chegaremos. No Brasil, pelo menos, já se escreve "umidade". Para facilitar? Não parece. A Bahia, felizmente, mantém orgulhosa o seu H (sem o qual seria uma baía qualquer), Itamar Assumpção ainda não perdeu o P e até Adriana Calcanhotto duplicou o T do nome porque fica bonito e porque sim.

Isto de tirar e pôr letras não é bem como fazer lego, embora pareça.Há uma poética na grafia que pode estragar-se com demasiadas lavagens a seco. Por exemplo: no Brasil há dois diários que ostentam no título esta antiguidade: Jornal do Commercio. Com duplo M, como o genial Drummond. Datam ambos dos anos 1820 e não actualizaram o nome até hoje. Comércio vem do latim commercium e na primeira vaga simplificadora perdeu, como se sabe, um M. Nivelando por baixo, temendo talvez que o povo ignaro não conseguisse nunca escrever como a minoria culta, a língua portuguesa foi perdendo parte das suas raízes latinas.


Outras línguas, obviamente atrasadas, viraram a cara à modernização. É por isso que, hoje em dia, idiomas tão medievais quanto o inglês ou o francês consagram pharmacy e pharmacie (do grego pharmakeia e do latim pharmacïa) em lugar de farmácia; ou commerce em vez de comércio. O português tem andado, assim, satisfeito, a "limpar" acentos e consoantes espúrias. Até à lavagem de 1990, a mais recente, que permite até ao mais analfabeto dos analfabetos escrever sem nenhum medo de errar. Até porque, felicidade suprema, pode errar que ninguém nota.

"É positivo para as crianças", diz o iluminado Bechara, uma das inteligências que empunha, feliz, o facho do Acordo Ortográfico.


É verdade, as crianças, como ninguém se lembrou delas? O que passarão as pobres crianças inglesas, francesas, holandesas, alemãs, italianas, espanholas, em países onde há tantas consoantes duplas, tremas e hífens? A escrever summer, bibliographie,tappezzería, damnificar, mitteleuropäischen? Já viram o que é ter de escrever Abschnitt für sonnenschirme nas praias em vez de "zona de chapéus de sol"? Por isso é que nesses países com línguas tão complicadas (já para não falar na China, no Japão ou nas Arábias, valha-nos Deus) as crianças sofrem tanto para escrever nas línguas maternas. Portugal, lavador-mor de grafias antigas, dá agora primazia à fonética, pois, disse-o um dia outra das inteligências pró-Acordo, "a oralidade precede a escrita". Se é assim, tirem o H a homem ou a humanidade que não faz falta nenhuma. E escrevam Oliúde quando falarem de cinema. A etimologia foi uma invenção de loucos, tornemo-nos compulsivamente fonéticos.


Mas há mais: sabem que acabou o café-da-manhã? Agora é café da manhã. Pois é, as palavras compostas por justaposição (com hífens) são outro estorvo. Por isso os "acordistas" advogam cor de rosa (sem hífens) em vez de cor-de-rosa. Mas não pensaram, ó míseros, que há rosas de várias cores? Vermelhas? Amarelas? Brancas? Até cu-de-judas deixou, para eles, de ser lugar remoto para ser o cu do próprio Judas, com caixa alta, assim mesmo. Só omens sem H podem ter inventado isto, é garantido.


No Jornal “Público”, por Nuno Pacheco, Jornalista


NOTA:


Esta é de omem!!! Desculpem o omem sem h, mas stou a tentar adatar-me ao novo sistema ortográfico. Amanhã averá uma tal confusão d scrita q ninguém s entenderá. Mas com a crise q temos á anos temos q poupar e temos q ensinar aos Palops a fazer o mesmo. Realmente, é um fato q andávamos abituados a encher o papel com muitas letras inúteis q não pasam d lixo.

Mas já estou velho para aprender línguas» e o meu computador continua a exigir que escreva o português da D. Fernanda. Tenham paciência pois para me lerem terão de aturar as letras que, segundo a ortografia socrática das novas oportunidades, estarão a mais.
Abraços
Jão

5 comentários:

Valquíria Calado disse...

Pois é amigo, acho até justo que toda a lingua Portuguesa tenha a mesma escrita e significados, danado é eu estar integrada a na globalização e ter dificuldade de me comunicar por ter a língua diversas escritas.
Já a Bahia, estado sempre será escrito assim, como sempre foi, mas a baia física,terra banhada por mar, também sempre foi "baia" assim; Já a pessoa nascida na Bahia estado, é baiana. Nós deste lado do mundo, temos tantas influências que nos perdemos na originalidade, mas aceitamos, faz parte de nós sermos diversificados.

Um abraço e tenha um semana de alegrias.

Luis disse...

Minha Boa Amiga Valquíria,
Acredite que para nós há palavras que escritas de outra forma perdem definitivamente o seu significado!
Daí o meu post!
Continuação de um bom fim-de-semana e um beijinho muito amigo.

Graça Pereira disse...

Querido Amigo

Esta é a maior salada "russa" que vi até hoje! Já ninguem se entende!
Gosto muito dos nossos amigos brasileiros e do seu português "doce" mas...há certas coisas que alteram a sonoridade da nossa prosa!! Já imaginou um belissimo texto de Eça de Queirós com todas estas "modernices"? Penso que ele se levantaria da tumba no maior protesto que se possa imaginar e...quanto a mim, depois de tantas reguadas que apanhei para escrever um português perfeito, acho que ficaria com um passado inglório!!!
Beijo amigo
Graça

Pelos caminhos da vida. disse...

Luis!

Não há benção maior do que sua existência, obrigada por estar comigo mesmo estando ausente daqui.

beijooo.

Luis disse...

Minhas Boas Amigas,
Obrigado Graça pelo seu apoio! Na realidade não era necessário nem conveniente tal acordo ortográfico que só nos vem baralhar... À "Pelos caminhos da Vida obrigado pela sua visita que muito me honra!
Beijinhos amigos e um bom resto de fim-de-semana.