Defendo há
muito tempo que Portugal precisa de um ‘choque vital’. E esse choque vital
passa pela redução drástica da despesa do Estado, de modo a libertar dinheiro
para a economia.
O Estado
gasta muito dinheiro de forma não reprodutiva, e isso tem contribuído para
asfixiar o crescimento económico.
Sucede que só
um partido está hoje empenhado nesse objectivo: o PSD.
Porque, desde
a sua fundação por Francisco Sá Carneiro, é um partido de matriz liberal (e não
social-democrata, como muitas vezes erradamente se diz), com ligações à classe
empresarial e com vocação empreendedora.
Todos os
outros partidos não querem a mudança.
Uns por
razões ideológicas, outros por razões oportunistas.
Os partidos
de esquerda, que durante muitos anos foram progressistas, estão hoje numa
posição defensiva, pois o seu papel é defenderem com unhas e dentes as
‘conquistas dos trabalhadores’, obtidas depois do 25 de Abril e nos anos de
vacas gordas.
É esta
essencialmente a posição do PCP, mas também a do BE.
O caso do PS
é diferente.
O PS é um
partido do funcionalismo público e da pequena burguesia urbana, e a sua matriz
é estruturalmente conservadora.
Não é um
partido de grandes mudanças.
António
Guterres e sobretudo José Sócrates tentaram transformar um pouco essa vocação,
apontando num sentido mais liberal, mas não tiveram grande sucesso.
E a passagem
do PS para a oposição levou-o a adoptar uma atitude de resistência activa às
reformas, criando problemas por tudo e por nada, e acabando por não se
distinguir muito do PCP e do BE.
Resta o CDS.
O CDS tem uma posição diversa da da esquerda, até porque está no Governo, mas –
não nos esqueçamos – é um partido ideologicamente conservador.
Não está
vocacionado para fazer reformas.
É por isso
que, perante a obrigatoriedade imposta pela troika de mudar muita coisa, os
centristas se mostram de dia para dia mais incomodados.
Paulo Portas
tornou-se um verdadeiro contorcionista, colando-se hoje ao Presidente da
República, demarcando-se amanhã do ministro das Finanças mas não querendo
romper com ele, sendo forçado a ter uma atitude em S. Bento, outra no Caldas e
outra ainda na rua.
A divulgação
do relatório do FMI sobre a reforma do Estado veio pôr a nu o conservadorismo
ou a falta de coragem da esmagadora maioria do país.
A quase totalidade
das forças políticas e sociais, e das figuras públicas, reagiu como se o
relatório tivesse peçonha.
‘Não me
associem a isso!’ – foi a reacção quase generalizada.
Ninguém quis
ficar ligado àquelas propostas.
Apenas uma
pessoa, Carlos Moedas, teve a coragem de dizer que o relatório estava «bem
feito» e merecia ser discutido.
As outras
pessoas e instituições demarcaram-se dele ou atacaram Moedas, numa tentativa de
desviarem as atenções e não discutirem a questão de fundo.
Disse-se que
o relatório era «precipitado», que vinha «tarde de mais», que tinha «números
desactualizados», sempre com o mesmo objectivo: fugir à discussão sobre a
reforma do Estado.
Acontece que,
por muito que se fuja ao tema, o problema está lá.
E o problema
é este: o Estado não pode continuar a gastar o que gasta.
Pensemos
apenas no seguinte: o défice público, por força dos compromissos com a troika,
tem de continuar a baixar; ora, não podendo os impostos subir mais (e não
havendo muito mais ‘anéis’, como a EDP ou a ANA, para vender), resta-nos
reduzir a despesa.
Não há como
fugir daqui.
Mas a única
força política que hoje assume esta necessidade é o PSD.
Todas as
outras fogem com o rabo à seringa – não só a tomar medidas, mas mesmo a
discutir as medidas.
Como fazer
então?
Acho que não
vai ser possível fazer nada – e que esta questão pode muito bem levar ao fim do
Governo.
Vamos cair
num impasse: por um lado há que reformar o Estado, mas por outro há uma grande
maioria contra essa reforma.
Registe-se:
O PCP está
contra.
O BE está
contra.
A CGTP está
contra.
O PS está
contra.
A UGT, quando
as medidas apertarem, estará contra.
O CDS vai
tentar empatar.
E, last but
not least, uma boa parte do PSD também está contra. Não falo apenas de Manuela
Ferreira Leite ou António Capucho – falo de todos os candidatos do PSD às
autarquias que, com medo de perderem as eleições, vão estar na primeira linha
das críticas ao Governo (veja-se o lamentável ataque de Carlos Carreiras a
Carlos Moedas).
Ora, como
será possível reformar o Estado com uma esmagadora maioria do país contra?
A reforma do
Estado não irá pois fazer-se – e esse fracasso (e correspondente pressão
política e financeira) poderá provocar a queda do Executivo.
No meio
disto, só não percebo o contentamento de muitas pessoas de esquerda.
Elas não
entendem que, se o Governo cair, a esquerda ficará com a batata a escaldar nas
mãos (uma batata ainda mais quente do que hoje, pois os mercados voltarão a
‘atacar- nos’)?
Se o Governo
cair, o que fará a esquerda?
Aumentará
ainda mais os impostos?
Reduzirá
brutalmente os encargos do Estado, fazendo aquilo que hoje nem quer discutir?
Não fará uma
coisa nem outra e correrá com a troika daqui para fora?
E a seguir,
quando os cofres se esvaziarem, dirá que a situação deixada pela direita era
tão má, tão má, tão má, que não é possível pagar aos funcionários públicos?
Este quadro
de terror não é tão longínquo quanto se pensa.
1 comentário:
*
Amigo Luís,
,
Que venho o choque vital,
(sem ser a policia de: . . .
,
aquele abraço,
fica,
*
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