Longe vai o
tempo em que os nossos irmãos brasileiros punham um olhar longínquo, como se
quisessem enxergar um horizonte impossível - ao ouvirem falar das bonomias de
que gozavam os cidadãos europeus, mesmo os menos afortunados, os do sul, entre
os quais os portugueses.
Viviam-se então
os anos finais da década de oitenta. Depois, começou a falar-se numa crise que,
ao invés de se mostrar passível de inversão, veio a revelar-se persistente,
sempre em crescendo, até que só mesmo uma intervenção do FMI em operação
conjugada com o Banco Central Europeu permitiu salvar o sistema financeiro do
país de uma iminente banca rota. Estava-se então em Maio de 2011.
É verdade que as
regras impostas pela denominada Troika, como condição para que se realizasse o
empréstimo gradual de cerca de 78 mil milhões de euros, conduziram os
portugueses a sacrifícios até então impensáveis, mas tudo o que se passou até
agora parece ser uma brincadeira de crianças em comparação com o que se
vislumbra vir a acontecer a curto prazo.
Na realidade,
perante o relatório encomendado recentemente pelo governo português a
consultores do FMI, o chamado estado social conquistado com sangue
suor e lágrimas de tantos filhos desta nação após a chamada revolução dos
cravos, emergente de uma ditadura de quase cinquenta anos, parece estar
irremediavelmente condenado à extinção.
Entretanto, o
país vive já em profunda recessão, mercê do elevado e sempre crescente
desemprego que se regista, com o seu rosário de dramas e carências, enquanto
que o investimento está praticamente reduzido a zero, não obstante a banca ter
sido reequilibrada em matéria de solvência. Salva-se a balança de pagamentos,
que vem registando crescentes acréscimos na exportação, embora ameace agora
estagnar ou até regredir, mas que continuará ainda equilibrada mercê de uma
significativa redução das importações.
Os tradicionais
mercados europeus, mercê da actual debilidade das suas economias, compram-nos
menos, mas outros destinos se têm entretanto aberto aos nossos produtos. Valha-nos
isso.
Politicamente,
fala-se muito e realiza-se pouco. Isto é próprio dos latinos, está-nos no
sangue. Mas é lamentável assistir ao nível a que a dialéctica parlamentar
baixou, tal como a mediatização promovida pelas várias televisões, onde se perde
um tempo precioso em mesas redondas, quadradas e de outros formatos
geométricos, que pouco ou nada adiantam em termos de ideias aproveitáveis para
uma mais eficaz governação que minore os sacrifícios impostos ao povo, ao invés
de os aumentar, como se vê no presente Orçamento de Estado para 2013, ainda em
fase de análise constitucional, por dúvidas do Presidente da República
relativamente a matérias que mexem com impostos acrescidos e a retirada (ainda
que temporária) de benefícios e direitos adquiridos a milhões de cidadãos,
entre os quais os aposentados, sempre os mais atingidos porque indefesos.
Voltando ao tal
Relatório da autoria do FMI sobre a sustentabilidade do estado
português, embora tratando-se de um documento de uma frieza
caracteristica e marcadamente técnica, não tenho quaisquer dúvidas sobre a
intencionalidade da sua vinda a público; a de lançar a sua discussão na
sociedade no mais curto espaço de tempo possível.
Na realidade,
face ao estimável PIB nacional, e tendo em conta as condições actuais do país e
da Europa, em que se integra, as nossas finanças só terão sustentabilidade se
conseguirem poupar mais quatro mil milhões de euros anuais. É isto que nos é
dito e redito nos dias que correm. E as soluções são bem poucas.
Não quero - nem
saberia - comentar sobre esta reafirmada realidade. Deixo-vos, isso sim, o
resumo do tal Relatório da autoria da consultoria do FMI para vejam vocês
mesmos aquilo que espera este país que, embora pequeno, tem gente única,
sensível, bondosa, mas que sempre soube ser também estoica valente e
determinada, quando as circunstâncias o impõem.
Percentagem de
desempregados na população activa: cerca de 17% (muito perto de um
milhão de cidadãos. Sabe-se que cada desempregado afecta, em média, mais
duas pessoas do seu agregado familiar).
Nos jovens à
espera do primeiro emprego: cerca de 40% de desempregados.
Eugénio de Sá
3 comentários:
Querido Amigo Luís.
Um balanço real e bem oportuno da actual e penosa situação que atravessa o nosso país.
E mais sacrifícios nos aguardam!
Como é possível que o povo possa "aguentar" este descalabro?
Não dá para acreditar como foi possível terem deixado que chegassemos a este ponto!
A cada dia que passa, tudo se complica e enreda cada vez mais, mas a culpa não é de niguém...
Beijinhos amigos, Luís e a minha gratidão pelo seu carinho e amizade.
Janita.
Um panorama geral sobre o nosso país que me deixa preocupada e triste!
Que fizeram de Portugal??
Obrigada pelos teus votos no concurso dos blogues. Conto com os amigos para não ficar mal classificada.
beijo e boa semana.
Graça
Minhas Boas Amigas,
Chegamos a esta crise pela incompetência e corrupção de muitos que já deviam ter sido julgados e presos... mas como existe o compadrio só o povo é penalizado!
Quanto aos votos que lhe dei é por seu mérito.
Beijinhos muito amigos.
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