Destruir
Portugal
In DN
Somos a geração que está a destruir Portugal. Daqui a décadas, aqueles que viverem nos escombros do que foi Portugal olharão para trás e culpar-nos-ão da sua situação. Apesar do nosso hábito pedante de condenar épocas antigas por males que lhes assacamos, as acusações que um dia ouviremos nunca as pudemos atribuir aos antigos.
Na sua amargura, os futuros terão dificuldade em acreditar que, apesar do desvario, tivéssemos momentos de lucidez e vislumbre da futura destruição. Hoje, no meio da crise, muitos dizem que Portugal está destruído. Só que, até admitindo o mal, a tacanhez que arruína o País está activa e distorce a compreensão. Os disparates que acompanham queixas e acusações manifestam, nelas próprias, o terrível vício que destrói Portugal.
Aqueles que agora contemplam a desgraça que cairá sobre nós começam logo por se considerar totalmente inocentes. São sempre outros os culpados. Como se um punhado de vilões, mesmo em posição de poder, conseguisse uma devastação destas. Muitos até dizem identificar os bandidos, lançando-se afanosamente em intensa e mesquinha campanha de denúncia e insulto. Assim manifestam a mesma desgraçada grosseria.
Pior é que o diagnóstico da situação, os males considerados e as curas recomendadas são tão laterais, incipientes e tolas que, em si mesmas, manifestam o vício que destrói Portugal. A razão por que tantos bramam que se arruína o País tem a ver com... dinheiros. É espantoso, mas muitos estão mesmo convencidos de que a recessão será irremediável e as dificuldades económicas fatais. O nosso problema é, afinal, falência de lojas e restaurantes, desemprego alto, dívida pública.
Isto permite compreender a desgraçada atitude que arrasa um povo. Pondo a nossa esperança a esse nível, colocando a nossa ânsia nesses temas, tendo a razão de ser em coisas dessas, não admira que se devaste uma nação. "Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração." (Mt 6,21)
De facto, a destruição de Portugal não tem nada a ver com isso. Esta crise estará esquecida dentro de anos, como tantas para trás, a maioria bastante pior. Aquilo que o tempo não pode apagar, aquilo que chega para aniquilar o País é a destruição da família e a extinção da natalidade. Com a taxa de fertilidade mais baixa da Europa Ocidental e das mais baixas do mundo, o casamento em vias de extinção, o divórcio em níveis nunca vistos e a educação na quinta década sucessiva de crise, não admira que as próximas gerações acusem este tempo dos seus males.
Em 2010, último ano com dados para a amostra completa, éramos o terceiro país dos 15 da Europa com mais divórcios e o quarto com menos casamentos. Com apenas mais 1.3 casamentos do que divórcios por mil habitantes, o nosso País mostra uma precariedade familiar que é difícil de replicar na história do mundo, e raramente se encontra fora de situações de calamidade nacional. Não podemos ter dúvidas de que estamos a destruir Portugal.
Nos cinco anos desde 2007 já houve mais de 80 mil abortos, cerca de dez vezes os soldados portugueses mortos nos 14 anos de Guerra Colonial. Muitos se queixaram das cicatrizes que esse conflito deixou na geração que a suportou. Mas ninguém ouve sequer a voz da geração que hoje é sacrificada a "razões socioeconómicas" e à "opção da mulher". E o genocídio não demora apenas 14 anos. Sem fim à vista, continua galopante.
Entretanto, muita gente acha Portugal perdido pela concorrência chinesa, reforma do Estado ou participação no euro. O disparate chega para revelar a infantilidade. Quando souberem que pensamos assim, os futuros habitantes desta terra perceberão a mesquinhez da nossa atitude. Os nossos poucos descendentes e todos aqueles que vierem de longe tapar o buraco populacional que deixámos vão entender como foi possível que fizéssemos esta desgraça.
Afinal, a atitude egoísta e interesseira que endividou o País, trazendo-o à crise, é a mesma que hoje motiva as lamúrias e os insultos e que promove o divórcio, despreza a fertilidade e prefere o aborto. Sem filhos não há futuro.
Somos a geração que está a destruir Portugal. Daqui a décadas, aqueles que viverem nos escombros do que foi Portugal olharão para trás e culpar-nos-ão da sua situação. Apesar do nosso hábito pedante de condenar épocas antigas por males que lhes assacamos, as acusações que um dia ouviremos nunca as pudemos atribuir aos antigos.
Na sua amargura, os futuros terão dificuldade em acreditar que, apesar do desvario, tivéssemos momentos de lucidez e vislumbre da futura destruição. Hoje, no meio da crise, muitos dizem que Portugal está destruído. Só que, até admitindo o mal, a tacanhez que arruína o País está activa e distorce a compreensão. Os disparates que acompanham queixas e acusações manifestam, nelas próprias, o terrível vício que destrói Portugal.
Aqueles que agora contemplam a desgraça que cairá sobre nós começam logo por se considerar totalmente inocentes. São sempre outros os culpados. Como se um punhado de vilões, mesmo em posição de poder, conseguisse uma devastação destas. Muitos até dizem identificar os bandidos, lançando-se afanosamente em intensa e mesquinha campanha de denúncia e insulto. Assim manifestam a mesma desgraçada grosseria.
Pior é que o diagnóstico da situação, os males considerados e as curas recomendadas são tão laterais, incipientes e tolas que, em si mesmas, manifestam o vício que destrói Portugal. A razão por que tantos bramam que se arruína o País tem a ver com... dinheiros. É espantoso, mas muitos estão mesmo convencidos de que a recessão será irremediável e as dificuldades económicas fatais. O nosso problema é, afinal, falência de lojas e restaurantes, desemprego alto, dívida pública.
Isto permite compreender a desgraçada atitude que arrasa um povo. Pondo a nossa esperança a esse nível, colocando a nossa ânsia nesses temas, tendo a razão de ser em coisas dessas, não admira que se devaste uma nação. "Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração." (Mt 6,21)
De facto, a destruição de Portugal não tem nada a ver com isso. Esta crise estará esquecida dentro de anos, como tantas para trás, a maioria bastante pior. Aquilo que o tempo não pode apagar, aquilo que chega para aniquilar o País é a destruição da família e a extinção da natalidade. Com a taxa de fertilidade mais baixa da Europa Ocidental e das mais baixas do mundo, o casamento em vias de extinção, o divórcio em níveis nunca vistos e a educação na quinta década sucessiva de crise, não admira que as próximas gerações acusem este tempo dos seus males.
Em 2010, último ano com dados para a amostra completa, éramos o terceiro país dos 15 da Europa com mais divórcios e o quarto com menos casamentos. Com apenas mais 1.3 casamentos do que divórcios por mil habitantes, o nosso País mostra uma precariedade familiar que é difícil de replicar na história do mundo, e raramente se encontra fora de situações de calamidade nacional. Não podemos ter dúvidas de que estamos a destruir Portugal.
Nos cinco anos desde 2007 já houve mais de 80 mil abortos, cerca de dez vezes os soldados portugueses mortos nos 14 anos de Guerra Colonial. Muitos se queixaram das cicatrizes que esse conflito deixou na geração que a suportou. Mas ninguém ouve sequer a voz da geração que hoje é sacrificada a "razões socioeconómicas" e à "opção da mulher". E o genocídio não demora apenas 14 anos. Sem fim à vista, continua galopante.
Entretanto, muita gente acha Portugal perdido pela concorrência chinesa, reforma do Estado ou participação no euro. O disparate chega para revelar a infantilidade. Quando souberem que pensamos assim, os futuros habitantes desta terra perceberão a mesquinhez da nossa atitude. Os nossos poucos descendentes e todos aqueles que vierem de longe tapar o buraco populacional que deixámos vão entender como foi possível que fizéssemos esta desgraça.
Afinal, a atitude egoísta e interesseira que endividou o País, trazendo-o à crise, é a mesma que hoje motiva as lamúrias e os insultos e que promove o divórcio, despreza a fertilidade e prefere o aborto. Sem filhos não há futuro.
por João César das Neves
3 comentários:
Será bom que João César da Neves , criatura de quem não gosto, alerte o Governo e o seu círculo para os efeitos das desastradas políticas que estão realizando e que ao mesmo tempo não seja cínico, já que acha ser esta uma "abençoada crise"!!
Um bom final de semana, meu caro Luís
Meu querido amigo Luis
Muito obrigada pelos parabéns à minha «CASA», que conseguiu, apesar de todas as tormentas, concluir mais este ano.
Confesso que tive que fazer um esforço muito grande para a manter de pé. E não raras foram as vezes em que me deu vontade de desistir. Mas, enfim,cá continuamos, até ver.
Gostei deste texto de João César das Neves, é já "ouvi" outras opiniões condizentes com esta.
Claro que os casais atribuem à crise o não terem (ou não quererem) filhos. Compreende-se a preocupação com o futuro não muito risonho que se lhes antevê... mas não sei se essa será a única, ou até mesmo, a mais importante razão.
As pessoas, hoje em dia, não estão disposta a abdicar de um certo número de coisas que o ter filhos implica... A questão não é muito fácil de solucionar...
Um feliz Domingo.
Beijinhos com grande amizade
Queridas Amigas São e Mariazita,
Os Vossos comentários acabam por ser complementares, pois todos Nós somos responsáveis por esta desgraça em que vivemos - uns por omissão outros por execução.
"As moscas mudam mas... a m---- é sempre a mesma que fica nos pratos a comerem-nos vivos"!
Saudações amigas e solidárias.
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