"Vós que lá do vosso império, prometeis um mundo novo...CUIDADO, que pode o povo, querer um mundo novo a SÉRIO!" In: António Aleixo

12/10/2010

A AUTORIDADE DO ESTADO ESTÁ EM CAUSA!!!


Ao Fim e ao Cabo

Portugal sofre – entre outros males que não vêm ao caso – de falta de autoridade do Estado. Para que não restem dúvidas: não defendo um Estado autoritário que tudo pode e quer; não pretendo um País do ‘respeitinho’ imposto pelo cassetete; não quero um Estado da moral piedosa e dos bons costumes de catecismo.
Exijo do Estado, apenas, que cumpra as suas obrigações – e um dos deveres é não consentir agressões a polícias. Este ano já vai com 300 agressões. A facilidade com que em Portugal se bate em polícias demonstra como o Estado não é capaz de exercer a autoridade a que está obrigado em nome de todos nós. Não se perdeu o respeito: perdeu-se o sentido de cidadania – por culpa da fraqueza dos tribunais que hesitam em punir quem acha que pode atacar um polícia. O Tribunal da Relação acaba de suspender a pena aplicada a um grupo de desordeiros que espancaram um agente da PSP. A douta decisão, se não é um convite ao crime, gera um sentimento de impunidade com consequências terríveis. Ainda na última terça--feira, em Lisboa, quatro delinquentes deixaram um polícia entre a vida e a morte. O País, além dos anéis, arrisca perder a decência.


Manuel Catarino, jornalista

Entretanto há destas Coisas…

No dia das comemorações do centenário da República um grupo de simpatizantes monárquicos, na maioria alinhados com o blogue "31 da Armada", estava perto da Praça do Município e os participantes colocaram máscaras de Darth Vader, personagem da "Guerra das Estrelas" que tem sido a imagem de marca daquele blogue. O curioso é que foram abordados por polícias à paisana, vários deles de cabelos rapados e óculos escuros, que lhes quiseram tirar as máscaras, não se sabe bem por que razão nem por qual autoridade.

Noutra rua ali próxima um conhecido humorista da TV, Jel, dos Homens na Luta, fazia uma das suas habituais intervenções, proclamando que na sua opinião estamos numa república das bananas - e por esse facto foi detido e levado para identificação pela polícia. Num regime que se quer expoente da Liberdade, estes comportamentos são curiosos.

Mais elucidativo ainda é o relativo e dominante silêncio dos mídia sobre estas atitudes - e já agora também sobre as cerimónias evocativas da Monarquia que na mesma data ocorreram em Guimarães, sem dignitários do regime nem usufrutuários dos dez milhões de euros das festividades republicanas, mas com largas centenas de pessoas, que lá se deslocaram de propósito a expensas próprias, num ambiente de festa popular em contraste com o cinzentismo da Praça do Município.

A criatura

As autarquias fazem os centros escolares. Os institutos fazem jantares e esbanjam milhões em mordomias
Uma criatura chamada José Junqueiro, que substituiu na Secretaria de Estado da Administração Local um grande governante chamado Eduardo Cabrita, depois de um ano de mudo e eficaz silêncio que não contribuiu nem para o seu cadastro nem para o seu currículo, agora, falou. Aliás, a única coisa que o distingue. Fala. Apenas isso.
Esteve no governo e da façanha pode dar conta aos netos. Está cumprido o seu destino. Porém, esta semana decidiu atirar-se aos autarcas. À presa mais fácil e mais à mão. Porque o poder local, como se conhece, tem a idade do regime democrático, tem fraquezas, está exposto ao insulto fácil, à revolta e ao simplismo dos ódios. E é verdade que tem grandezas e misérias. Porém, estão ali, nas juntas de freguesia, nas câmaras, à mão de semear, próximos dos seus eleitores, sabendo directamente das mágoas e expectativas, escutando os lamentos de quem padece, de quem está desempregado, de quem sofre, as lágrimas de desesperados a quem a política nacional, comunitária e governamental pôs na margem da própria vida. Eleitos sempre expostos, desde o insulto à incompreensão, desde a chantagem à vilania.
E também à solidariedade, às obras, à solução dos problemas mais instantes das populações, aquelas que fizeram de Junqueiro governante mas nem sabem onde é o seu paradeiro, em que gabinete se esconde, em que labirinto se protege, feito de um peito que não se dá às balas. Este homem veio dizer que as autarquias têm de gastar menos e gastar melhor. Gastar, o quê? Seguramente não podem gastar os 100 milhões de euros que este governo retirou o ano passado. Nem os perto de 150 milhões que quer retirar agora. Para quê? Para anular o poder interventivo do poder local, para aumentar a angústia de milhões confrontados com a crise do qual esta criatura é um dos beneficiários, através do seu governo. Corta nos seus institutos, direcções gerais, comissões, governos civis e preguiça correlativa? Não. Aí não.
Nas autarquias. Que contribuíram com 14% para o endividamento, enquanto as estruturas dirigidas pelo seu governo contribuíram com 77%! É preciso descaramento. Não fosse o poder local e contavam-se pelos dedos das mãos as obras que o país tem para mostrar realizadas pelo governo do senhor Junqueiro. A começar pela rede escolar que tanta baba faz correr a quem nos governa. A EU e as autarquias fazem os centros escolares que vão polvilhando o país. Enquanto isso, os institutos fazem jantares de centenas de milhares euros, esbanjam milhões em mordomias, e, caladinhos, bem-comportadinhos, pois são eles que fazem do senhor Junqueiro uma pessoa importante para dizer disparates.

Francisco Moita Flores, professor universitário

Pobreza

Um país onde se admite a possibilidade de taxar o subsídio de Natal, ou mesmo acabar com ele, mas que gasta dinheiros públicos para TGV, altares, estádios de Futebol, frotas milionárias para gestores públicos (922 carros topo de gama, já em 2010), reformas obscenas a quem trabalha meia dúzia de anos ou nem tanto, etc. É, de facto, um país pobre. Mas, pobre de espírito, antes de mais!

O Martins é o motorista...

A medidazita que faltou
Ele é vogal de uma dessas entidades reguladoras portuguesas - insisto, não é ministro de país rico, é um vogal de entidade reguladora de país pobre - e foi de Lisboa ao Porto a uma reunião. Foi de avião, o que nem me parece um exagero, embora seja pago pelos meus impostos. Se ele tem uma função pública é bom que gaste o que é eficaz para a exercer bem: ir de avião é rápido e pode ser económico. Chegado ao Aeroporto de Sá Carneiro, o homem telefonou: "Onde está, sr. Martins?" O Martins é o motorista, saiu mais cedo de Lisboa para estar a horas em Pedras Rubras. O vogal da entidade reguladora não suporta a auto-estrada A1. O Martins foi levar o senhor doutor à reunião, esperou por ele, levou-o às compras porque a Baixa portuense é complicada, e foi depositá-lo de volta a Pedras Rubras. O Martins e o nosso carro regressaram pela auto-estrada a Lisboa. O vogal fez contas pelo relógio e concluiu que o Martins não estaria a tempo na Portela. Encolheu os ombros e regressou a casa de táxi, o que também detestava, mas há dias em que se tem de fazer sacrifícios. Na sua crónica nesta edição do DN, o meu camarada Jorge Fiel diz que o Estado tem 28 793 automóveis. Nunca perceberei por que razão os políticos não sabem apresentar medidas duras. Sócrates, ontem, ter-me-ia convencido se tivesse também anunciado que o Estado passou a ter 28 792 automóveis
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Ferreira Fernandes

1 comentário:

A. João Soares disse...

Uma esclarecedora antologia de opiniões convergentes para a análise da crise.
É preciso que surjam mais escritos a apontar a porta de saída para a solução!!!
Eanes disse que as manifestações organizadas como a greve geral não produzirão grande preocupação sobre o bando do Poder. Mas, por outro lado, as manifestações sem organização nem controlo poderão ser demasiado desgastantes de recursos nacionais, humanos e de património. De que estão à espera para «governarem», no bom sentido, os destinos de Portugal???

Um abraço
João

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