A grande mentira
"Declaro por minha honra que estou integrado na ordem social estabelecida pela Constituição Política de 1933 com activo repúdio do comunismo e de todas as ideias subversivas", era a declaração que qualquer pessoa que quisesse entrar no funcionalismo público tinha de subscrever nos tempos de Salazar.
A história que se conta para aí do 25 de Abril é falsa como Judas. É verdade que no tempo de Salazar havia ditadura, mas era uma ditadura suave, uma ditadura mantida pela PIDE, a polícia política, que caçava fundamentalmente bombistas e agitadores; e havia a censura, o "lápis azul", facilmente manobrável. Com Marcelo Caetano, contudo, começou a haver uma abertura aos ideais que grassavam em alguns países do mundo ocidental: a "censura" tornou-se menos atenta e a PIDE foi substituída pela DGS, mas as pessoas eram as mesmas e os métodos estavam demasiado arreigados para serem mudados de um momento para o outro.
Respiravam-se ares primaveris mas os chuviscos teimavam em não desaparecer; os militares do quadro, habituados ao "ar condicionado" das cidades ultramarinas, dada a escassez de milicianos, começavam a sentir o "desconforto" da mata.
Marcelo chama Spínola e acerta com ele um "golpe de estado": uma "revolução" militar que possibilite eleições livres após mais ou menos seis meses.
Spínola escreve "Portugal e o Futuro" e entende-se com os oficiais que lhe são fiéis e alguns "infiltrados". Marcelo Caetano convida Mário Soares, protegido de Salazar e "exilado de luxo" em Paris, a regressar a Portugal.
Estabelecido o quadro, acontece o 16 de Março, que falhou por ter havido quem, à última hora, tivesse roído a corda.
Restabelecida a "ordem", manietada a DGS, estala o 25 de Abril. Euforia! O pior foi o 26: os militares de "esquerda", com a ajuda do PC que entretanto se organizara, traem Spínola e este trai Marcelo. Foi a confusão. "Escreve-se" uma história oficial do 25 de Abril, da coragem dos "capitães", uma história que ainda hoje, quarenta anos passados, se conta por aí. Uma mentira bem propagandeada passou a verdadeira.
Serenamente, Spínola vai segurando a Junta Militar e os militares fiéis; é nomeado presidente da república, de uma nova república. A maioria silenciosa manifesta-se, e na noite negra de 28 para 29 de Setembro, duas facções militares e políticas contam as espingardas. Patriota, para evitar um banho de sangue, Spínola abdica. Costa Gomes, Vasco Gonçalves e o PC tomam definitivamente conta do poder. Generais de aviário – os capitães no seu melhor - ajudam à festa A KGB portuguesa, a que se acolhem muitos ex-informadores da PIDE, dita leis. A insegurança toma conta do povo. Os partidos de direita são pura e simplesmente eliminados. Mário Soares e o PS, apesar da proteção da CIA, CDS e PSD apenas vão sobrevivendo.
A 11 de Março de 1975, o golpe final das forças autoapelidadas de esquerda. A ditadura popular instalada por Costa Gomes, Vasco Gonçalves, PC, UDP, MRPP e outras franjas esquerdóides atinge o auge. Como não há mal que sempre dure nem bem que não se acabe, a 25 de Novembro surge o contragolpe das forças militares democráticas: Jaime Neves e os comandos restabelecem a ordem e o país, finalmente, respira democracia.
Rio-me quando ouço Marcelo R. de Sousa – logo ele! - falar em ditadura salazarista; rio-me quando ouço Soares falar em democracia, logo ele que, sob a máscara bonacheirona, é um ditador implacável, ávido de dinheiro e outros bens; rio-me dessa gentalha toda que, enriquecendo à custa do erário público e de trapaças, anda por aí a pregar moralidades, enganando o zé-povinho. Dói-me que se não escreva a história de Portugal entre o 29 de Setembro de 1974 e o 25 de Novembro de 1975, período em que se cometeram mais brutalidades e crimes sobre pessoas não afectas à "esquerda" que durante toda a "ditadura" salazarista; dói-me que não apareça alguém com coragem para eliminar os corruptos e corruptores que, enxameando o país, o sugam.
Precisamos de um novo 25 de Abril? Está visto que não. Talvez precisemos de um novo 25 de Novembro, ou, quem sabe, de um novo 28 de Maio. É urgente recriar um país de gente honesta e trabalhadora.
José Querido
NOTA:
OS QUE SABEM
QUE ME ELUCIDEM; POR FAVOR!