Há vários anos que venho analisando situações como essa, que juntam a multidão, como símbolo de um colectivo maior, à bandeira, símbolo do que une esse colectivo. Num artigo de 2008 para a revista online Observatório (OBS*) Journal analisei a ligação visual entre a multidão e a bandeira enquanto símbolos nacionais (http://obs.obercom.pt/index.php/obs/article/view/168/137). Ao substituir as bandeiras partidárias pelas bandeiras nacionais, a central de propaganda de Sócrates deu o passo lógico, final, da ideologia socratista. Primeiro, inculcou a identificação do partido com o seu meneur ou líder.
As duas perguntas de Sócrates aos congressistas e figurantes — “Está comigo este Partido Socialista? Vocês estão comigo?” — ficarão para a história política desta época. Depois, sugeriu pelas bandeiras nacionais a identificação do chefe e do partido com a Pátria (com exclusão dos outros).
Nunca, desde Salazar, se processara esta identificação do país com o chefe indiscutível. O final frenético do congresso, por entre bandeiras, ruído da multidão e máquinas de filmar, recordou-me as últimas linhas da História de Portugal para Meninos Preguiçosos (1943), de Olavo d’Eça Leal:
“- Paulo Guilherme!, quem vive? E o rapaz, a rir, respondeu: - PORTUGAL!
- Paulo Guilherme!, quem manda? E ele, meio surdo com o silvo da máquina, gritou: - SALAZAR!"
O mito de Salazar “casado com a Pátria” era o corolário desta estratégia de propaganda.
O congresso de Sócrates sugeriu visualmente o mesmo casamento. A bandeira nacional acrescenta o símbolo visual à propaganda e à ideologia autoritária encenada em Matosinhos, a mesma que Salazar definiu no discurso de Braga em 1936: “Não discutimos a Pátria e a sua História; não discutimos a autoridade e o seu prestígio”.
No congresso de Sócrates também não se discutiu. A bandeira nacional de Matosinhos sugerem o partido como o único que desfralda a bandeira de todos. Nos últimos anos, a publicidade usou-a em anúncios de bancos, telecomunicações, bebidas alcoólicas ou supermercados.
Trata-se de propaganda pura, e é isso que se pode esperar de Sócrates até 5 de Junho. Ele não tem nada para propor e muito menos tem passado para invocar. Resta-lhe a desinformação e a propaganda pela propaganda. A desinformação e a propaganda surreal, afastando os eleitores da realidade, são as suas tábuas de salvação.»
Eduardo Cintra Torres, Público
Nota:
NEM OS SERVIÇOS DE PROPGANDA DO HITLER FIZERAM ALGUMA VEZ MELHOR !!! A TÉCNICA E METODOLOGIA SÃO NO PRESENTE CASO IGUAIS,PORÉM A PERGUNTA QUE SE FORMULA É A SEGUINTE:-O QUE É QUE DE IMPORTANTE PARA O PAÍS E PARA OS CIDADÃOS EM GERAL,FACE À SITUAÇÃO POLÍTICA CAÓTICA QUE IMPERA, FOI PARIDO NESTE
VClemente
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