Para
quem não sabe, é ex-ministro, presidente da Camara Municipal de Lisboa, e nº 2
do PS
E aqui está a parte principal do que ele disse (transcrito
manualmente) no programa “Quadratura do Círculo”:
(…) A situação a que
chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou durante
muitos anos Portugal para deixar de produzir; não foi só nas pescas, não foi só
na agricultura, foi também na indústria, por exemplo no têxtil. Nós fomos
financiados para desmantelar o têxtil porque a Alemanha queria (a Alemanha e
outros países como ela) queriam que abríssemos os nossos mercados ao têxtil
chinês basicamente porque ao abrir os mercados ao têxtil chinês eles exportavam
os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós deixávamos
de produzir. (…)
(…) Nós orientámos os
nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União
Europeia: em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram
dados e em função do crédito que foi proporcionado. E portanto, houve um
comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política
induzida pela União Europeia. Portanto não é aceitável agora dizer o que se
diz. Podemos todos concluir e acho que devemos concluir que errámos, agora eu
não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses. Não, esse foi
um erro do conjunto da União Europeia e se ela fez essa opção foi porque
entendeu que era a altura de acabar com a sua própria indústria e ser
simplesmente uma praça financeira. E é isso que estamos a pagar! (…)
(…) Quem viveu muito
acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os
muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o Orçamento do Estado. A Administração
Central e Local enxamearam-se de milhares de “boys”, criaram-se Institutos
inúteis, Fundações fraudulentas e Empresas Municipais fantasmas. A este “regabofe”
juntou-se uma epidemia fatal que é a Corrupção. Os exemplos sucederam-se. A
Expo 98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias urbanísticas
milionárias, mas no final deu prejuízo. Foi ainda o Euro 2004, e a compra dos
submarinos, com pagamentos de luvas e corrupção provada, mas só na Alemanha. E
foram as vigarices de Isaltino Morais, que nunca mais é preso. A que se juntam
os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as 16 parcerias público-privadas e
mais um rol interminável de crimes que depauperaram o erário público. Todos
estes negócios e privilégios concedidos a um polvo que, com os seus tentáculos,
se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos. E têm como
consequência os sacrifícios por que hoje passamos.
Enquanto isto, os
portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio europeu, não acima das suas
possibilidades. Não devemos pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das
contas públicas. Devemos antes exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam.
Há que renegociar as parcerias público-privadas, rever os juros da divida
pública, extinguir organismos… Restaure-se um mínimo de seriedade e
poupar-se-ão milhões sem penalizar os cidadãos.
Não é, assim,
culpando e castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve
a crise. Resolve-se combatendo as suas causas, o “regabofe” e a corrupção. Esta
sim, é a única alternativa séria à austeridade a que nos querem condenar e ao
assalto fiscal que se anuncia.
2 comentários:
Fpoi bom reler esta análise de uma pessoa que admiro, mas que me parece ter perdido um pouco o pé neste avença-recua quanto ao Oartido.
Um abraço, meu caro amigo
Gostei de ler aqui a opinião de alguém que conhece bem os meandros da política...nada que me surpreenda!
Há muito que perdemos autonomia em tudo... Somos um pau mandado dos interesses exteriores que, no entanto, permite, a certa classe, engordar que nem uns nababos... A esses senhores, que lhes importa o sofrimento do povo se a sua conta tem mais una números cada mês que passa?? Não sei e começo a ficar desanimada, se este país terá possibilidades de fuga a toda esta "corja"...
Bj e bom fim de semana, meu Amigo.
Graça
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