Transcrição de post publicado no blog BRONCAS DO CAMILO http://broncasdocamilo.blogspot.com/
O BANDO DE ARGEL
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Em passeio pela blogosfera, dei de caras com o blogue de Patrícia McGowan Pinheiro, que também assina Patrícia Lança.
Filha de pai português e mãe de origem irlandesa, estreia-se na blogosfera aos 82 anos. Dissidente do Partido Comunista Britânico, viveu de 1962 a 1966 na Argélia, onde foi redactora do "Révolution Africaine".
Foi por lá que conheceu o bando de Argel.
Ficou a saber a vidinha custosa e as boas acções de Manuel Alegre, Piteira Santos e Tito de Morais, entre outros figurões de estalo.
O assunto inspirou-lhe um livro, justamente intitulado «O Bando de Argel», que a autora reeditou em 1998 pela Contra-Regra, sob o título de «Misérias do Exílio - Os últimos meses de Humberto Delgado». (Foi uma das obras que consultei para um volume publicado há alguns anos sobre a PIDE/DGS.)
Em 260 páginas, a autora demonstra com cópia de pormenores e apêndice documentais que o general foi despachado pelos interesses coligados do Partido Comunista e do bando de Argel.
Oito citações: "A Frente Patriótica de Libertação Nacional foi o título pomposo de um pequeno grupo de pessoas cujo fim era o aproveitamento de acções e sacrifícios feitos por outros." (pág. 27 "Assim, a direcção da FPLN passou a ter uma valiosa arma contra a dissidência.
Foram ao ponto de exigir que, à chegada, os portugueses lhes entregassem os passaportes". (pág. 46) "Contudo, o problema do general [Humberto Delgado] subsistia.
Tornara-se definitivamente anti-comunista.
Seria ainda mais perigoso para o partido fora da Argélia - em contacto com os núcleos de exilados em várias capitais.
E terrivelmente mais perigoso se, porventura, entrasse clandestinamente em Portugal.
Era uma testemunha viva da incompetência e corrupção moral de certos prestigiados «anti-fascistas».
Preso em Portugal ou livre na clandestinidade constituiria uma ameaça terrível para os projectos do Partido Comunista". (pág. 82)
"Na rádio Voz da Liberdade, o major Ervedosa e Manuel Alegre insultavam Delgado." (pág. 89)
"Durante esses dois meses de angústia [desaparecimento de Delgado], foram os dirigentes da Frente Patriótica - Fernando Piteira Santos, Manuel Tito de Morais, Pedro Ramos de Almeida e Manuel Alegre - que envidaram todos os esforços para bloquear a realização de um inquérito e, caso o general estivesse preso ou com vida, quaisquer tentativas para o salvar".
(págs. 89-90)
"Quando eu e os meus amigos soubemos, no dia seguinte, que os dirigentes da Frente Patriótica tentaram apoderar-se do arquivo do general, a conclusão foi unânime: só teriam essa desfaçatez se tivessem a certeza absoluta que Delgado já não voltaria mais".
"Só depois da descoberta dos cadáveres, anunciada no dia 27 de Abril, é que a Frente Patriótica abandonou a tese de uma «operação publicitária» por parte do general; só então, quando o mundo inteiro já sabia da morte do general, é que eles começaram a emitir protestos e apelos (...)" (pág. 91) "(...) a sua actividade [de Humberto Delgado] é prejudicial à unidade anti-fascista e a sua pessoa não interessa ao futuro democrático do país." (p. 226, excerto de um comunicado da FPLN, de 23 de Março de 1965)
Mas não é por nada disto que o blogue de Patrícia tem dado brado.
Há muito que a «intelligentzia» arquivou o caso Delgado: foi assassinado pela PIDE. Ponto final. Ninguém curou de investigar se Casimiro Monteiro era um agente duplo, o modo como Pereira de Carvalho organizou a operação, etc.
Um longo etc. Nada disto importa, tanto que se corre o risco de descobrir alguma verdade "inconveniente".
B.O.S.