"Vós que lá do vosso império, prometeis um mundo novo...CUIDADO, que pode o povo, querer um mundo novo a SÉRIO!" In: António Aleixo

16/03/2011

Ainda a Manifestação de 12 de Março


Geração à Rasca - A Nossa Culpa
Um dia, isto tinha de acontecer.
Existe uma geração à rasca?
Existe mais do que uma! Certamente!
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo.
Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.
Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.
Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.
Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!
A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.
Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.
Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração? Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja, que chatice! São betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça! Já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.
E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?
Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la.
Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam. Haverá mais triste prova do nosso falhanço?
Pode ser que tudo isto não passe de alarmismo, de um exagero meu, de uma generalização injusta.
Pode ser que nada/ninguém seja assim.
PUBLICADO POR ASSOBIO

UM APONTAMENTO SOBRE A MANIF. DE DIA 12/3
Não interessa quantos foram, foram muitos. A parte central da Av. Da Liberdade estava repleta, desde os Restauradores até à estátua do Pombal. E ainda faltam os das restantes cidades.
Interessa sim, como se realizou e o que significa/representa.
Correu bem para além de todas as expectativas.
Não havia mais jovens do que de outras idades – ou seja a “aflição” é transversal – não havia bandeiras partidárias (talvez uma), mas havia algumas bandeiras nacionais (o que está bem); não apareceram políticos (pudera!), nem frases estúpidas; não houve má educação, nem houve discursos – ou seja ninguém ficou desagradado.
Confesso que nunca imaginei ver cidadãos de extremos políticos opostos, em boa vizinhança e com outros com bandeira do “arco-íris” pelo meio. Mas vi.
Correu bem. Apesar de não haver organização, nem elementos de “segurança” da manifestação, etc., não houve um único incidente, um dislate, um mau comportamento. Respirava-se, como hei-de dizer – vos, um “bom ar”. Parecia um passeio de domingo onde as famílias se juntaram no mesmo local e decidiram seguir pelo mesmo caminho.
É certo que o caminho representava um protesto e cada um teria as suas razões. Mas cada um fez, aparentemente, das razões dos outros as suas razões…De facto somos um povo muito peculiar. Até nos chegar a mostarda ao nariz.
Um ponto comum se pode divisar: o protesto contra a classe politica e o comportamento dos Partidos. Porque, independentemente das razões de uns e de outros, foram eles que conduziram o Estado à falência, a Nação à indigência e a Sociedade à falta de Princípios.
Por isso ninguém os vislumbrou (aos políticos). Os políticos e os Partidos não gostam deste tipo de manifestações. Não são eles que as convocam, organizam e controlam…Às vezes até se opõem, estão lembrados do que aconteceu no 28 de Setembro de 1974, com a manifestação da “maioria silenciosa”? Por isso até o mais conhecido apóstolo do “direito à indignação”, o Dr. Mário Soares, desvalorizou e não apoiou esta indignação cívica…
A manifestação não tinha objectivos específicos e, por isso, se esgota, provavelmente, aqui. Mesmo não sendo só a juventude que está à rasca, mas o país inteiro.
Mas aquilo que significou devia quedar-se no espírito de quem ocupa, ocupou ou pensa vira a ocupar, as cadeiras do poder político. Para que ganhem juízo e decência. E para que deixem de querer fazer de Portugal e dos portugueses um negócio de vão de escada.
João J. Brandão Ferreira
TCorpilav (Ref.)

NOTA:
Estes considerandos são extensos mas são oportunos e refletem bem as razões desta manifestação ainda que por angulos diferentes mas não antagónicos pois, de certa maneira, complementam-se e justificam-na.

6 comentários:

Unknown disse...

Como é difícil lidar com as frustrações, não saber colocar limites e se dar limites... Acredito que essa é uma questão muito profunda e que tem muito peso e consequências nos tempos atuais.
Um ótimo texto. Um abraço carinhoso

Unknown disse...

Luedani
www.nossopossivel.blogspot.com

Acima saiu o endereço de meu outro espaço.
Bjs

José disse...

Caro amigo Luís!
Concordo plenamente com tudo, o que escreveu. Eu tenho um filho de trinta e quatro, com licenciatura e mestrado, dá uma formações aqui e ali,e dá aulas na universidade do Algarve, enquanto uma sobrinha minha está fazendo o doutoramento, e depois fica no desemprego novamente, tenho uma filha com trinta e dois também licenciada, ela tem um emprego mais ou menos garantido, faz parte dos quadros superiores de uma câmara local, mas moram em casas minhas, e comem a maior parte das vezes na minha casa, mas há mais de dez anos que não dou um tostão nem a um nem a outro. mas conhece pais que até dão dinheiro aos filhos para eles comprarem a dogra.

Um abraço,
José.

Graça Pereira disse...

Querido Amigo
Pois é! Por uma ou por outra razão ou por todas...estão pais e filhos à rasca! Mas tambem porque tivemos sempre um governo RASCA que não sou precaver, poupar, orientar e olhar mais longe...porque fizeram da democracia uma bandeira de...porcaria!! Agora?? Agora estamos todos num lamaçal e,
sinceramente, não sei se conseguiremos sair deste atoleiro...
As porcissões dos "pec" não páram...e, qualquer dia já não há mais gente para esfolar porque todos já morreram de miséria.
Os meus amigos se lessem este comentário ,diriam: desconhecemos-te! Tu, o optimismo em pessoa... pois, pois, mas é que o tsunami que por aqui passa arrasa tudo sem deixar prespectivas de futuro! Não falo por mim...falo pelos jovens como o meu filho que já vai na terceira licenciatura...Terá de ser toda a vida estudante???
Talvez seja eu que hoje, estou como o tempo cinzento e frio!
Beijo amigo
Graça

Espaço do João disse...

Meu caro.
Fico muito grato pela sua visita ao meu espaço.
Afinal, não sou só eu que penso da mesma maneira.
Lembra-se que dia é hoje? 17 de março, um dia após a intentona das Caldas. Estamos novamente à espera que daqui a um mês aproximadamente, o povo acorde. Que desta vez não seja com cravos nos canos das espingardas, mas com correntes bem fortes para atar estes corruptos todos e, mandá-los para as profundezas do Mindanau.
Podem lá deixar também os submarinos, os TGV e, todas as mordomias que nos querem enfiar.
Tenho a certeza que ainda há gente honesta no nosso país para nos levar a bom porto. Na nossa geração rasca, ainda se encontram muitos que plantarão couves, já que de "nabos" estamos fartos.
Um abraço e, volte Sempre.

Luis disse...

Amigas e Amigos,
Não é falta de optimismo quando assim pensamos! É simplesmente ser sensato e positivo pois na realidade estamos a ser empurrados para areias movediças que nos matarão a todos!
Agora fala-se do "papão" do FMI mas isso é para evitar que o mesmo venha acabar com as mordomias pornográficas que por aí proliferam e responsabilizar quem as promoveu... E são todos os que t~em passado pelos diversos (des)governos! Que venha o FMI para acabar com todo esta "feira de vaidades e disparates"!
Um forte abraço amigo e solidário.