"Vós que lá do vosso império, prometeis um mundo novo...CUIDADO, que pode o povo, querer um mundo novo a SÉRIO!" In: António Aleixo

13/03/2011

Gerações à rasca










Dizem-nos que a geração que agora tem à volta de 30 anos está à rasca. Porque, por exemplo, há jovens de 30 anos, com licenciaturas e eventualmente mestrados, que não conseguem melhor do que um contrato precário a recibo verde e um salário entre 500 e 1000 euros. Outros não conseguem sequer um primeiro e precário emprego. É uma tragédia? Será.
Mas então que dizer de um menos jovem, de 40, que trabalhe oito horas por dia numa fábrica têxtil qualquer, a troco de 475 euros? Ou um de 45, desempregado, sem direito a subsídio, com dois filhos, que é preciso alimentar, vestir e educar? O que será isto? Quem está mais à rasca, a geração dos que agora têm 30 anos, ou a geração dos que agora têm 40 anos?
E que dizer dos idosos que, aos 70 ou 80 anos, sem retaguarda familiar, sobrevivem em casas velhas e destelhadas com 300 euros de pensão? Estes também estarão à rasca, ou não contam, porque quem conta, agora, são apenas os que têm um curso superior, banda larga em casa e conta no Facebook?
Que me perdoem os que estão verdadeiramente à rasca [muitos deles da geração que ronda agora os 30 anos], mas esta manifestação que se anuncia e sobretudo a discussão que vai gerando, demasiadas vezes se parece com uma birra de quem substituiu o aborrecimento e as dificuldades da vida real pela excitação e rebelião de uma vida virtual.
Escreve-se no manifesto que deu origem a este protesto, e repete-se até à exaustão, que a geração dos 30 anos é, entre todas as gerações, a que tem mais habilitações. Escasso e pobre argumento para um país que há muito anda cheio de doutores e engenheiros, pelos menos nos títulos que mandavam inscrever nos livros de cheques e cartões-de-visita. Habilitações nunca faltaram, o que falta é qualificação e competência. E ao contrário da primeira, a duas últimas não aparecem automaticamente com o canudo de fim de curso.
Aos que apareçam na luta do próximo dia 12, fica um último alerta: não é a geração dos que agora andam na casa dos 30 anos que está à rasca; são as várias gerações de portugueses, todas elas, que estão à rasca. E não há soluções para sair do buraco que contemplem apenas os jovens de 30 anos. Ou se encontra um caminho comum, ou vamos todos juntos para o abismo. Tenham em conta que não é um abismo virtual. É o da pobreza. Onde já mergulharam dois milhões de portugueses. A esmagadora maioria não tem curso superior, muito menos mestrado. E estes, sim, estão verdadeiramente à rasca.

Rafael Barbosa

Nota:
Estive na Manifestação de Lisboa e o que vi foi exatamente um povo "à rasca". Eram de todas as idades, de todos os extratos sociais que por lá andavam manifestando as suas desgraças. Pela televisão verifiquei que o mesmo se passava nas outras cidades! Só lá faltavam os políticos dos diversos partidos que esses e os seus boys e girls estão cheios para lá "do dizer chega"... Os cartazes que nelas seguiam eram bem elucidativos nesse sentido pois não perdoavam o poder político-partidário o estarem "eles" cheios e o povo na miséria. Desta vez os responsáveis dos diversos partidos não apareceram pois sentiram que se lá fossem seriam vaiados e escorraçados! "Eles" que aprendam esta lição e "óbviamente" se demitam! O Presidente Cavaco Silva tem agora força para acabar com esta situação crítica em que vivemos! Haja coragem para o fazer que o povo estará com ele!!! Tem que haver uma mudança radical nas mordomias dos políticos, nas pensões antes das idades estabelecidas dos 65 anos, nas reduções de deputados, nas reduções das empresas públicas e Institutos (onde abundam os boys e girls de todos os partidos), etc., etc.

2 comentários:

Espaço do João disse...

Meu Caro.
Como o compreendo e, estou completamente do seu lado.
Nasci em 40 do século passado. Meu pai não sabia ler nem escrever. Minha mãe teve 9 filhos. A nossa casa, nada mais era do que um palheiro para gado e, o chão de terra batida. Dormíamos uns ao lado dos ourtos.
Se houvesse chuva, não havia trabalho. Havia racionamento, desde o azeite, petróleo, açúcar, farinha e quase todos os bens essenciais.
Refiro que nasci e vivi na Madeira. Quem passou por estas situações não estava à rasca? Quem tirava cursos superiores? Quem trabalhava a terra? Quem ia para a cama com a barriga vazia?
Já sei, vão dizer que os tempos eram outros... Pois é bem verdade, mas nessa altura quem não trabalhasse não comia.
Lembram-se do tempo do Sidónio Pais que mandou plantar couves na Avenida da Liberdade?
Quem me conheceu, sabe muito bem que a minha mãe levou-me na barriga para a ribeira, onde ia lavar a roupa e, trouxe-me dentro da bacia onde levava a roupa suja. Sozinha conseguio parir este energúmeno que está a escrever estas bacoradas.
Essa sim... Foi uma geração à rasca.
Posso ter um curso superior numa área mas o mesmo, não me impede de plantar uma couve.
Um Abraço deste que também se encontra à rasca mas, não passa a vida nos cafés ou na vadiagem.
Nota:- Tenho um curso intermédio.( Antigo Instituto Industrial) mas foi tirado durante a noite e, trabalhando durante o dia , no que aparecia.
Também meus filhos com curso superior e, um com mestrado e doutoramento, trabalharam em pat-time para isso. (Tenho 70 anos) e, já percorri o mundo sempre em trabalho.Estou consciente do que afirmo.

Luis disse...

Meu Bom Amigo,
Antes de lhe responder fui visitá-lo e passei a segui-lo no seu belo Espaço. Agora venho afirmar que somos da mesma geração ainda que seja um pouco mais velho (77 anos)e como tal vivi situaçõe snão digo iguais mas muito semelhantes e daí perceber o ter-me compreendido e estar ao meu lado! Nascemos nas dificuldades mas "fizemo-nos" na Vida!
Esta gente nova, ao contrário, em relação a nós nasceu em "berço de ouro", e agora começa a sentir a vida a apertá-los daí a sua maior dificuldade em "fazer-se" na Vida!
Mas acredite que também os compreendo e bem pois tenho em casa filhos, como os seus, que estão a passar por graves problemas na sua inserção na vida profissional! Para obter os seus cursos superiores também trabalharam o que os diferencia de muitos outros da sua geração!
Um abraço amigo e solidário.