Os caminhos do destino levam a que, ultimamente, de todas as
gravatas que possuo, aquela que tenho utilizado mais seja a preta.
Preta, de luto.
Desta vez usei-a para acompanhar
á sua última morada, o Coronel de Artilharia do Exército (até agora, português)
Carlos Gomes Bessa.
Um homem bom e corajoso em todas as fases da sua vida, em
que se revelou ser uma “força da natureza”.
Morreu na paz do Senhor.
Falecido no primeiro dia de Novembro – ex - feriado de Todos
os Santos – contava 91 anos de uma vida cheia, em que soube sempre ultrapassar
os obstáculos com firmeza e bonomia.
Exemplo disso foi a luta que travou durante 14 anos, a fim
de tentar ultrapassar a injustiça do saneamento de que foi alvo – como muitos
outros camaradas – na sequência dos eventos “revolucionários”, ocorridos a
seguir ao Golpe de Estado de Abril de 1974.
A sua carreira estendeu-se e espraiou-se, fundamentalmente,
em duas áreas: a militar e a de académico e historiador.
No âmbito militar fez jus ao lema artilheiro de que “a
Artilharia morre em sentido”.
Foi um oficial completo com uma personalidade e formação,
sólidas.
Depois do Curso na Escola do Exército, iniciado em 1942, foi
colocado no Regimento da Serra do Pilar, uma unidade de grandes tradições
militares, que ficou conhecida como “Os Polacos da Serra”, e que viria a
comandar, como coronel, em 1973.
Em 1950 foi chamado para frequentar o exigente Curso de
Estado - Maior, tendo ingressado no respectivo “Corpo” e desempenhado funções
correlativas, durante vários anos.
Fez duas comissões no Ultramar – de que se tornou grande
conhecedor e estudioso – a primeira na Guiné, entre 1956 e 1960, onde
desempenhou as funções de Chefe de Estado – Maior do Comando Militar e, logo em
Abril desse ano, marchou para Angola a convite do Governador – Geral de quem
foi chefe de Gabinete, tendo regressado em Junho do ano seguinte, na sequência
do início do terrorismo naquela Província.
Foi Comissário Nacional da Mocidade Portuguesa entre 1966 e
1970 estando sempre muito ligado à educação da juventude tanto na Metrópole
como no Ultramar, tendo criado a “Procuradoria dos Estudantes Ultramarinos, em
1962. Foi ainda director da Revista “Ultramar” entre 1961 e 1970.
Foram-lhe concedidos 16 louvores e nove condecorações.
Como académico foi um trabalhador incansável, desenvolvendo
o seu labor em várias instituições de que se destaca a Academia Portuguesa da
História, de que foi Secretário nove anos; Academia das Ciências; Sociedade
Histórica da Independência de Portugal; Comissão Portuguesa de História
Militar, de que foi um dos fundadores e, depois, Secretário; Sociedade de
Geografia e Revista Militar, de que foi Director muitos anos.
São incontáveis os trabalhos, comunicações e conferências
efectuados, sempre com uma qualidade elevada, muitas delas de âmbito
internacional, tendo desenvolvido contactos sobretudo com o Brasil, a Venezuela
e a Espanha.
É ainda autor de vasta bibliografia histórica, de grande
mérito.
Assim se manteve até que um
lamentável acidente o confinou à sua casa e o impediu de continuar a sua
prestimosa e multifacetada produção intelectual.
Mesmo assim pude constatar a
alegria e vontade que tinha em viver, estar informado e em vir a realizar mais
coisas.
Manteve-se “jovem” até ao fim.
Conheci o Coronel Bessa, na
Revista Militar, vai para 30 anos e mantive sempre um contacto mais ou menos
estreito com ele, durante todo este tempo.
Aprendi a admirar a sua vasta
cultura, a sua habilidade nas relações humanas, o espirito militar e o seu amor
a Portugal.
Devo-lhe atenções, ajuda,
ensinamentos e amizade.
Privar com ele representou, sem
dúvida, uma das coisas boas que pude usufruir nesta vida.
Partiu um homem honrado e um
português de rara fibra e qualidade.
Amortalhou-se na Bandeira das
Quinas mas, porventura ainda magoado, dispensou as honras militares. Foi,
talvez, a última mensagem que nos deixou.
E, deste modo, ficámos mais
pobres.
João J. Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador
5 comentários:
Como elemento da Comissão dos Oficiais Saneados acompanhei-o na nossa luta durante 14 anos. Foi como seu Presidente sempre mostrou a sua tenacidade, nunca se deixando abater e conduzindo pela melhor forma uma luta que à partida parecia inglória conseguindo que fosse revista a nossa situação militar e feita JUSTIÇA! Morreu o HOMEM mas ficou a sua OBRA! As palavras de Brandão Ferreira representam bem o seu Carácter e a sua Postura na Vida!
Uma homenagem sentida ao amigo de armas.
Que descanse em paz.
Amigo Coelho,
Obrigado pelas suas boas palavras.
Um forte e amigo Abraço
Que esteja em paz!
Diz bem , meu caro amigo, o Exército Ainda é português, mas não sei por quanto tempo, quando ainda por cima o ministro da Defesa é Aguiar Bronco.
sabe da posição tomada por Pereira Cracel?
Um abraço afectuoso
Amiga São,
Ele A guiar os destinos das Forças Armadas é Bronco! Preocupado com a sua vida de Advogado entregou-se a meia dúzia de "especialistas" recém-formados e é isto que se vê... Só há cacos por todo o lado e já ninguém se entende!
Um beijinho amigo e solidário.
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