Assunção Esteves é uma personagem no
sentido plano e caricatural do termo. Nos romances, as Assunções surgem nos
capítulos secundários para dar um colorido sociológico ou histórico ao cenário
onde a personagem principal actua.
Ora, a nossa Assunção Esteves representa o
colorido cómico de um certo Portugal, o Portugal da comédia snob, do nariz
empinado por questões de nascimento. Sim, é o Portugal que brinca aos
pobrezinhos, mas também é o Portugal que quer brincar aos riquinhos. Assunção
Esteves encaixa na segunda espécie. Julgo que aqueles que brincam aos
pobrezinhos têm uma palavra gira para descrever esta segunda categoria:
possidónios. Palavra giríssima, sei lá.
A segunda figura do estado recusa admitir que o seu pai era alfaiate. Aquilo
que devia ser motivo de orgulho é motivo de vergonha. Como é evidentíssimo, a
filha de um pobrezinho não pode chegar ao topo, é contranatura. Apesar da
origem humilde, Assunção Esteves aceitou o ethos pseudo-aristocrático da
"Lesboa" que se repete em todas as povoações portuguesas com mais de,
vá, 10 habitantes. E a mutação não se ficou por aqui. Segundo uma peça da
Sábado, a Presidenta tem aquela obsessão típica pelo luxo. Ele é roupa de
alta-costura, ele é carteiras que custam 10% da sua reforma (valor da pensão:
7200 euros por 10 anos de trabalho), ele é um corrupio de assessores que trata
como escravos coloniais, ele é gastos sumptuários: assim que chegou à
Presidência da Assembleia, Assunção Esteves mudou a casa de banho do seu
gabinete para não usar a mesma retrete do antecessor. Que magno problema viu
Assunção Esteves no bumbum de Jaime Gama?
Os regimes mudam, mas este Portugal não morre. A comédia social parece que tem
o dom da imortalidade. Tal como em 1950, ainda temos fidalgos a viver em bolhas
sem qualquer contacto com a realidade. E, tal como em 1950, ainda temos
fidalgos wannabe que querem à força brincar aos riquinhos para depois brincarem
aos pobrezinhos. País giríssimo, sei lá.
Henrique Raposo
In: Expresso
Henrique Raposo
In: Expresso
1 comentário:
O "inconseguimento frustracional" se Assunção é notório.Nem todo o "soft power sagrado" por ela invocado disfarça a sua pobreza de carácter: além de não saber ter orgulho de seu pai ser alfaiate e sua mãe doméstica (provavelmente), também não quer que se saiba tere stado bastantes anos casada com José Lamego, militante do Partido Socialista.
É o país que temos...e que, se calhar, merecemos, sei lá!
Caro Luís, abraço amigo
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