Preciso de ar
puro para respirar. De ar limpo e transparente, para poder acreditar no mundo,
nas pessoas e em tudo o que me rodeia. Preciso de sentir a brisa da honestidade
e o halo da verdade. O calor de um humanismo despido de hipocrisia e os aromas
de Abril que agora, mais uma vez, chegou. Preciso de solidez na prosa e na
poesia, mas também de sonhos a saltitar no alvorecer de cada dia. Sinto-me
sitiado neste tempo do meu país. Agrilhoado por correntes de incompetência, por
algemas de infame desfaçatez. Torturado por palavras ultrajantes, por discursos
falsos e ludibriantes, por intrigas, delírios e arrogâncias que me ofendem na
pessoa e no corpo de mim próprio, lacerado pelas grilhetas que me amarram ao
poste do suplício de ser português hostilizado na minha pátria. Acusado,
vilipendiado, despojado, roubado, uma farsa de mim próprio, odiado e injuriado
pela sobranceria de quem me governa. Sou a mentira de ser europeu, quando a
Europa não sabe o que é.
Muito para além
da injustiça e violência com que somos governados, do peso insustentável da
carga de medidas punitivas e dos repetidos cortes que vimos sofrendo no nosso
sustento do dia a dia, das constantes e reiteradas ameaças de mais e mais
sacríficos, é a total impunidade que observamos, relativamente aos mais
diversos desvarios, mentiras, abusos e absoluta falta de vergonha do governo,
que me ultraja e revolta. Temos hoje um Estado de mau porte, um poder podre e
corrupto, traficante de influências e sem pudor ou sentido de rigor, maniqueísta
e impositor, que já nem se preocupa em parecer honrado e vertical. Um governo
que usa surdamente a intriga e o golpismo no seu próprio seio, que proclama
verdades que são mentira e falsidades que ocultam verdades incómodas e
penalizadoras do cidadão. Temos governantes que dizem uma coisa, para no dia
seguinte essas mesmas coisas serem desmentidas por outros governantes, mas sem
que, como consequência, os primeiros sejam responsabilizados e confrontados com
o que disseram, tudo para vergonhosamente tentarem burlar a ingenuidade de
muitos portugueses.
É não só o
futuro que é ameaçador e frustrante, como o presente que é uma mentira
institucionalizada pelo governo. Pior ainda, sentimos que não há qualquer
estratégia nacional, andamos à deriva, sem saber ao certo para que tem servido
todo o sacrifício com que nos enchem os ouvidos e que tem servido de falsos e
repugnantes elogios a uma pretensa capacidade de auto-sacrifício dos que não se
podem defender, um verdadeiro canto da sereia, que ofende o povo português na
sua mais profunda identidade. E no meio de toda esta estrambólica governação,
os arautos do poder e mesmo os seus mais proeminentes responsáveis, julgam-se
com direito a serem respeitados e passeiam a sua petulância pelos corredores da
comédia, não se eximindo a proclamarem as suas vulgaridades e ocas ideias, como
se fossem os deuses gregos do luso areópago, sempre embrulhados nos seus
incólumes mantos de altivez.
Sinto-me
despojado de mim mesmo, contaminado por toda esta poluição política que grassa
no ar rarefeito de uma Democracia penhorada à submissão do meu governo a
interesses alheios e obscuros. Esta política não tem já hipótese nenhuma de ser
reciclada, de voltar a ser matéria prima de nenhuma Democracia regenerada. Se
por um lado, os políticos não são todos iguais e tenhamos ainda esperança que
alguns tenham resistido a esta tóxica contaminação, a política, esta política,
tal como vem sendo entendida por aqueles que conseguem comprar o poder, outrora
um instrumento de busca de uma sociedade melhor, mais equilibrada e justa,
faliu quase completamente e transformou-se em detritos putrefactos duma classe
de vampiros, que não hesitam em sugar o sangue, a vida e mesmo a alma, não só
aos que se lhe atravessam no caminho e lhes fazem frente, mas mesmo aos mais
desprotegidos que, exangues, já não sentem força para lhes fugir.
Portugal é um
país em declínio, sem rumo nem economia. Um país que é um paradoxo, porque
nunca terá tido tantos economistas como os que por aí pululam hoje em dia, mas
a própria matriz de um economista mudou tão radicalmente, que não servem mais
para procurarem melhores rumos para o povo, mas sim para se aplicarem em
esquemas e projectos virados quase exclusivamente para fazerem crescer cada vez
mais os lucros dos poderosos. A economia foi feita refém daqueles que controlam
o poder, deixou de ser um instrumento para passar a ser uma arma. A arma que
não poupa pobres nem classe média, porque no futuro, essas categorias
fundir-se-ão numa massa produtiva, apenas. O futuro não comporta pessoas que
não sejam mensuráveis exclusivamente em termos de ganhos e lucros. A vertente
social da sociedade ficará reservada a quem tiver o poder de criar poder e tudo
o resto serão espúrios dum mundo que já não terá lugar no universo da alta
finança.
Preciso
urgentemente de ar puro para respirar, de tempo para envelhecer serenamente com
a qualidade de vida que todos nós merecemos depois de uma vida de
trabalho e prometo não me oferecer para uma morte breve. Ou me matam vivo
ou esperam que a morte de antigamente me leve… Jamais morrerei por estatística
ou por previsões de esperança de vida, nem mesmo para salvar a Segurança
Social. Morrerei quando a morte chegar e não quando qualquer Governo que seja,
o desejar. Bato no fundo, mas não me afundo!…
Ernani Balsa
“escreve sem acordo ortográfico”
“escreve sem acordo ortográfico”
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