Homenagem aos “Comandos” africanos fuzilados clandestinamente na Guiné
(…) O meu marido era o Alferes graduado “Comando” Demba Cham Seca. (…) Á terceira vez foi novamente detido, no dia 21 de Março de 1975, pelas duas horas da tarde. Quando, à noite, fui levar-lhe comida à esquadra de polícia de Bafatá, disseram que ele já não precisava dos alimentos. Soube, depois, que, nessa noite foi mandado para Babandica, onde foi fuzilado juntamente com outros. Os Tenentes Armando Carolino Barbosa e o Tomás Camará foram dois deles. (…) Na certidão de óbito, conseguida apenas em 2000, consta: “Faleceu de fuzilamento, por ter servido com entusiasmo o Exército Português”.
Regina Mansata Djaló, in “Guerra Paz e Fuzilamento dos Guerreiros (…) /2007, p 358.
(...) Depois das habituais honras militares, foram homenageados os três militares falecidos na Guiné, na zona de Guidage (cerco por muitas centenas de guerrilheiros do PAIGC a esta povoação, durante quase um mês), em Maio de 1973 e cujos corpos foram recuperados pela Liga dos Combatentes, num programa a decorrer nos três teatros de operações para esse efeito; isto é, no caso da Guiné para identificação e concentração no cemitério de Bissau em condições com alguma dignidade. Depois, os que as famílias demonstrarem interesse em serem trasladados para Portugal, julgo que tal poderá ser levado a efeito com o patrocínio de outras entidades.
Foram eles o Furriel Mil.º José C. M. Machado de Valpaços, o 1.º Cabo Gabriel F. Telo, da Calheta/Madeira e o Soldado Manuel M. R. Geraldes, de Vimioso, que depois seguiram aos seus destinos.
E ninguém falou nos “comandos” africanos fuzilados…
De seguida, o Ministro da Defesa, acompanhado pelo Presidente da Liga dos Combatentes e do Presidente da Associação de Comandos, Dr. Lobo do Amaral, procedeu ao descerramento das placas com os nomes de 53 “comandos” africanos (20 oficiais, 29 sargentos e 4 soldados) fuzilados clandestinamente a partir de Março de 1975, “apenas” por terem combatido com honra e brio no Exército Português / teatro de operações da Guiné, vários deles durante quase toda a guerra.
Nos discursos do General Chito Rodrigues, do General CEMGFA Valença Pinto e do Ministro da Defesa esta situação de fuzilamento nunca foi referida. Nem D. Januário Torgal Ferreira, na sua oração por alma dos militares, ou o locutor de serviço o mencionou.
Assim, não podemos ficar admirados pelo facto do Correio da Manhã, na sua edição do dia seguinte tenha noticiado:
“No Monumento aos Combatentes foi ainda descerrada uma placa com o nome de 53 comandos mortos na Guiné.” Nem disseram que eram africanos e guineenses, nem que foram fuzilados pelo PAIGC.
Deste modo a mensagem que passou para o público foi que os 53 militares portugueses foram agora colocados por, do antecedente, lá não estarem por qualquer lapso da organização do Memorial. (…)
(...) Enfim, a Verdade dos acontecimentos, quer já de natureza histórica, como o ocorrido com os referidos fuzilamentos clandestinos dos “Comandos” africanos, quer dos casos de corrupção que alastram por esse País, acabará por vir ao de cima. Demorar mais ou menos tempo depende de uma sociedade civil mais activa, que exerça os seus direitos de cidadania e os accione através dos mecanismos, que tem ao seu dispor numa Democracia e num Estado de Direito.
Cor. Ref. Manuel Amaro Bernardo
16-11-2009
PS: Junta-se a fotografia de Regina Djaló que, em 14-11-2009, aponta para o nome do marido Demba Seca, fuzilado na Guiné e agora constante do Memorial dos Combatentes do Ultramar.
2 comentários:
Sinto honra e não vergonha por ter servido a minha Pátria como militar na guerra do Ultramar.
Sinto sim vergonha por termos fugido e abandonado á sua triste sorte aqueles que ao nosso lado lutaram por uma causa na qual acreditavam.
Olá Ricardo,
Concordo inteiramente consigo. Cumpri o meu dever para com a minha Pátria enquanto prestei serviço na vida militar e por tal motivo sinto honra e não vergonha de te-lo feito.
Sinto raiva e vergonha por terem sido abandonados militares portugueses que connosco lutaram acreditando em nós! Muitos deles até foram enganados miserávelmente por quem os comandou e formou.
E agora até é envergonhadamente que pretenderam homenageá-los. Temem é que se responsabilizem os responsáveis pelos massacres havidos!
Um abraço solidário.
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