"Vós que lá do vosso império, prometeis um mundo novo...CUIDADO, que pode o povo, querer um mundo novo a SÉRIO!" In: António Aleixo

09/01/2014

A CASA DOS FAVORES=Assembleia da República





Os maiores grupos económicos portugueses dominam o Parlamento através das
dezenas de parlamentares a quem garantem salários e consultadorias. Estes
deputados colocam-se na posição ambígua que decorre duma dupla
representação: do povo que os elegeu e das empresas que lhes pagam.
Assim, quando o deputado Miguel Frasquilho aparece a defender em público o
Orçamento de 2014 em nome do PSD, fá-lo porque acredita que o Orçamento é
bom para o País, ou porque este favorece a Banca, em particular o Grupo
Espirito Santo ao qual deve obediência, enquanto funcionário?
A promiscuidade é, infelizmente, a regra.
O presidente da comissão de Segurança Social, José Manuel Canavarro, é
consultor do Montepio Geral, banco que atua na área da solidariedade.
Na saúde, setor tão sensível, o deputado Ricardo Baptista Leite, é consultor
da Glintt Healthcare , empresa fornecedora de hospitais.
Na área da defesa, há interesses privados representados pelo atual
presidente da Comissão de defesa, Matos Correia, advogado no mesmo
escritório que o seu antecessor na função, José Luis Arnaut, cujo principal
sócio é o ex-ministro também da Defesa, Rui Pena.
Na comissão de agricultura, Manuel Issac tutela, em nome do Parlamento, um
ministério que, por sua vez,influencia a atribuição de subsídios a empresas
agrícolas em que detém participações.
Também Isabel dos Santos, filha do presidente de Angola e acionista da Zon,
está representada no Parlamento, através do deputado Paulo Mota Pinto,
administrador daquela empresa de comunicações.
 A lista é interminável e assustadora.
Mas, mesmo assim, no debate sobre regime de incompatibilidades que há dias
teve lugar no Parlamento, os deputados que transformaram a Assembleia, a
casa da democracia, num escritório de negócios e favores, nem se dignaram a
aparecer para se justificarem.
Para restaurar alguma higiene democrática, exige-se que os deputados
promíscuos se decidam: abandonem os cargos que ocupam em empresas que
recebem benesses do Estado ou saiam do Parlamento cuja dignidade arruínam.
Se o não fizerem de modo próprio, nem forem censurados pelos seus pares,
terá chegado a hora de pedir uma investigação, a toda a Assembleia, pelo
crime de tráfico de influências.


Paulo Morais
Professor universitário

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