No tempo de Salazar não havia universidades privadas. Ou melhor: havia a Católica, fundada em 1968, mas essa tinha um estatuto especial.
Depois do 25 de Abril, uma das reivindicações dos liberais foi, naturalmente, a criação de universidades fora da tutela do Estado(...)
(...)Uns anos depois os escândalos também se multiplicariam em cadeia: a Moderna foi o que se sabe e fechou, a Independente foi o que também se sabe e fechou igualmente, a Internacional idem(...)
(...)O problema principal foi o facto de ter ficado claríssimo que muitas universidades tinham como único objectivo o negócio – e, ainda por cima, o negócio fraudulento(...)
(...) em algumas universidades funcionavam verdadeiros gangues, gente sem escrúpulos organizada em termos de associação criminosa. Foi isto o que se passou na área do ensino superior privado.
Na banca a história foi mais ou menos semelhante(...)
(...) passado o período revolucionário, a banca portuguesa adquiriu um novo fôlego, traduzido nas reprivatizações dos bancos que tinham sido nacionalizados (como o BPA, o Totta ou o Espírito Santo) e na fundação de bancos novos (como o BCP e o BPI, a que se seguiram muitos outros), não esquecendo as aquisições e fusões em série(...)
(...) de repente, estalou o escândalo do BCP (...)
(...)Só que ao escândalo do BCP seguiu-se o do BPN e a este o do BPP. E, aqui, toda a área ficou sob suspeita (...)
(...) na banca portuguesa só a Caixa Geral de Depósitos não foi afectada pela hecatombe.
Olhemos agora para o futebol.
O futebol sempre foi uma área difusa, dominada por interesses privados, mas que o anterior regime acompanhava de perto (...)
(...)Mas o 25 de Abril também provocou aqui uma pequena revolução, ‘completada’ mais tarde por Pinto da Costa – que transferiu o centro de gravidade clubístico de Lisboa para o Porto. Ora, tal como sucedeu nas duas áreas anteriores, depois de o futebol ter sido entregue a si próprio não tardou muito a que começasse a falar-se de escândalos.
O mais célebre foi o Apito Dourado, mas muitos outros ocorreram envolvendo árbitros, dirigentes e presidentes de Câmara: José Guímaro, Pimenta Machado, Valentim Loureiro, Fátima Felgueiras, José Eduardo Simões, etc., etc.
Em três sectores que fugiram ao controlo ou à tutela do Estado, e onde a sociedade civil passou a operar livremente, o resultado está a vista: deu-se o descalabro. Houve de tudo: corrupção, fraudes financeiras, gestão ruinosa, associações criminosas, fugas ao fisco, eu sei lá!
Ora isto diz muito sobre as nossas elites(...)
(...)os dirigentes falharam rotundamente. E é este o aspecto mais preocupante da sociedade portuguesa.
Todos os países podem ter melhores ou piores Governos. Mas os países só podem verdadeiramente andar para a frente se tiverem boas elites. Se, nos sectores vitais da sociedade, houver gente capaz, séria, competente e empreendedora.
Ora em várias áreas-chave temos tido demasiada gente que não presta(...) (...)que não hesita em recorrer à fraude, à corrupção, à usura para alcançar os objectivos.
Se os portugueses funcionam bem quando estão lá fora, por que não renderão o mesmo aqui?
Exactamente porque não existem elites capazes de estimular e enquadrar os cidadãos, aproveitando ao máximo as potencialidades do país.
Nota:
No post "Eu conheço um País..." já se dizia algo semelhante mas era chamada a atenção para o facto de poder haver a chamada "massa cinzenta" suficiente para se organizar um Governo de Salvação Nacional, desde que houvesse vontade política para o fazer. A dúvida está em conseguir-se essa vontade nos diversos partidos existentes, pois ninguém quererá perder o poder que tem vindo a deter até agora! Cada um defende o seu "tacho" e não quer saber do Portugal Global! É a primazia do individual sobre o colectivo!
2 comentários:
Querido amigo Luís,
Tem Na Cada Rau um miminho que sei que vai adorar.
O único cavalheiro que distingui.
Beijinhos
Ná
Querida Ná,
Sempre a mesma , sempre muito amiga e carinhosa. Ainda não vi mas vou lá a correr...
Um grande beijinho
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