"Vós que lá do vosso império, prometeis um mundo novo...CUIDADO, que pode o povo, querer um mundo novo a SÉRIO!" In: António Aleixo

16/12/2009

"A Pobreza em Portugal é uma vergonha"

Desculpem a transcrição integral deste artigo que me foi envido por Amigo, mas o assunto é de tal importância que a isso me obrigou.

Fernando Nobre, fundador e presidente da AMI, quebrou o politicamente correcto que marcou o debate de dois dias no 3º Congresso da Ordem dos Economistas sobre a Nova Ordem Económica. Nobre fez um discurso, a uma plateia cheia de economistas, actuais e ex-responsáveis políticos, gestores e empresários. Conseguiu palmas da plateia e introduziu um sentimento de urgência e indignação que, até a esse momento, esteve ausente do debate.
"É uma vergonha a pobreza que temos em Portugal". "Não me falem dos problemas de aumento do salário mínimo. "Quem é que aqui nesta sala consegue viver com 450 euros?", "Não me venham com cirurgias plásticas para as mudanças que vão acontecer no mundo", foram algumas das frases que deixou aos economistas presente.
Nobre, médico e professor, interveio num painel que abordou o papel das organizações não governamentais (ONG) na nova ordem económica mundial defendendo que além do seu papel no apoio à sociedade e de compensação por falhas dos governos, as ONG têm um papel essencial na denuncia de injustiças e desequilíbrios, e na pressão para que o mundo possa mudar. E foi isso mesmo que fez.
O presidente da AMI diz que "em Portugal é preciso redistribuir melhor a riqueza", que "há dezenas, senão centenas de milhares de jovens a sair de Portugal porque perderam a esperança". Inconformado, disse que "combater a pobreza é uma causa nacional", e salientou: "Não me venham com os 18% de taxa de pobreza, porque se somássemos os que recebem o rendimento social de inserção, os que recebem o complemento solidário para idosos, os que recebem o subsídio disto, e o subsídio daquilo, temos uma pobreza estrutural no nosso país acima dos 40%". "Não aceito esta vergonha no nosso país"
O nível de desemprego, as baixas reformas, a precariedade dos contratos de trabalho foram outras áreas que lamentou.
Os empresários também não foram poupados.
"Quando vejo a CIP a defender que o salário mínimo não aumente não posso concordar. Que país queremos? Quantos de nós aqui conseguiriam viver com 450 euros por mês?", perguntou à audiência, deixando depois um repto aos empresários: "Peço aos empresários para serem inovadores, abram-se ao mundo, sejam empreendedores".

"É o momento de repensar que mundo queremos", e recorrendo à frieza com que os médicos olham para a vida afirmou: "eu sei como vou morrer, sei como todos aqui vão morrer. E não é nessa altura, não é quando começarem a sentir a urina quente a correr pelas coxas, que vale a pena repensar a nova ordem económica mundial. É agora. As futuras gerações não vão perdoar".
Sobre o estado das economias, embora não sendo economista, avisou para os riscos que pendem sobre as economias e que os economistas presentes não abordaram: o risco de um crash obrigacionista, a falência de fundos de pensões pelo mundo, os milhões investidos em produtos derivados. "Não é razão para cedermos a paranóias, mas é preciso questionar se as economias capitalistas estarão à altura do desafio", disse, acrescentando: "É precisa prudência, bom senso e cuidados com os cantos da sereia".
E voltando aos seus conhecimentos médicos terminou dizendo: "Perante uma hérnia estrangulada, um médico só pode fazer uma coisa: operar imediatamente. Ora a hérnia já está estrangulada [na ordem económica mundial]: nós temos que operar, temos de mudar as regras, os instrumentos. É preciso bom senso, acção, determinação política", disse, avisando: "Se não o fizermos, as próximas gerações acusar-nos-ão, com razão, de não assistência ao planeta em perigo."

Sem comentários: