"Vós que lá do vosso império, prometeis um mundo novo...CUIDADO, que pode o povo, querer um mundo novo a SÉRIO!" In: António Aleixo

18/02/2010

Fotografia do estado da Nação


Li ontem, atentamente, várias páginas do semanário Sol sobre as escutas telefónicas que envolvem figuras conhecidas dos meios políticos e de empresas que movimentam grandes somas de capitais. Cheguei ao final com uma verdadeira sensação de nojo. O nojo que se tem perante algo repugnante, porque, de facto, são repugnantes todas as jogadas que se fizeram para conseguir calar opiniões que pouco abonavam a favor do Governo.

Os velhos e eternos valores da verdade, da dignidade, da frontalidade, do serviço público, do sacrifício pessoal, do desinteresse, da coragem não fazem parte das mentes dos intervenientes daquele jogo sujo que o semanário em questão deixa exposto para todos lerem. Tudo neles é mesquinho, reles e insignificante. Fica posta a nu a incompetência e a imoralidade dessa gente. E trata-se de gente que já passou por cadeiras da grande sala do Poder. É gente que quis governar este país numa maior ou menor quota-parte, usando o seu quinhão de influência para, afinal, se governarem.

A sua ideia de serviço não corresponde àquela que aos militares é incutida, é ensinada e é treinada no dia-a-dia da vida da unidade. E note o leitor o sentido ético que se atribui ao aquartelamento onde os militares vivem e se aprontam para o cumprimento das suas obrigações: unidade! Unidade, porque é isso que ali se inculca nos homens e mulheres: união que vai para além de todos os interesses pessoais, que vai para além dos egoísmos, união que se plasma no uniforme outro indício que gera e explica a unidade, pois obriga a uma única forma, a uma única maneira de aparecer perante a sociedade civil.

Note o leitor o contraste entre o comportamento dos militares e o dos civis que se querem arvorar em gestores da sociedade nacional, que desejam ser uma classe política. Os primeiros optam por livremente seguir uma carreira de riscos, mal remunerada - porque, como dizia Mouzinho de Albuquerque, não há remuneração que pague a disposição para o sacrifício da própria vida - socialmente bastante incompreendida em tempo de paz, com uma progressão difícil e sujeita a avaliações constantes e, acima de tudo, exigente em treinos que garantam a eficiência máxima se e quando for necessário; os segundos, jogando com compadrios vários, à revelia de competência efectiva, sem terem de dar maiores provas do que as que passam pela obediência às vontades e jogos de uma clique partidária, propõem-se governar a Nação, ou seja, governar o que é o património material, moral, histórico e cultural de todos nós. Qual é a escola que estes frequentam? Quais os princípios éticos que devem cumprir? Perante que código deontológico respondem quando falham?

Caros leitores, a distância que separa os militares da canalhada política é imensa, abismal, infindável. Por isso, e cada vez mais, se deve, dentro dos quartéis, cultivar os parâmetros do comportamento castrense, ensinando-os tanto às praças como aos oficiais, exigindo de todos um rigoroso cumprimento das normas deontológicas que pautam a actividade dos militares, porque - e é importante que isto não seja esquecido - as Forças Armadas são o reservatório moral da Nação, pois, quando tudo estiver em ruína na sociedade civil, terá de restar intacto o valor ético das Forças Armadas e delas renascerá, sempre mais forte e mais digno, o vigor desta Pátria velha de séculos, desta Pátria que se não encolhe envergonhada perante o juízo da História que tem condenado e vai condenar os políticos que não souberam preservar e transmitir um património que as Forças Armadas lhes entregaram há mais de trinta anos para gerirem, servindo todos e, em especial, os mais desfavorecidos. Neste momento, as Forças Armadas têm de estar moralmente sãs e preparadas, e isso é incumbência indeclinável dos Chefes militares.

Luís Alves de Fraga
Coronel

5 comentários:

Mariazita disse...

Querido amigo Luis
Por tudo que está expresso na primeira parte deste post, é que eu digo e repito: a política cansa a minha beleza!
Prefiro até vê-la só de longe, para evitar, também eu, ficar com nojo...
Eu, com cara de nojo, seria um verdadeiro horror...
Estou fazendo um pouco de graça apenas para disfarçar o desgosto que me causa ver a que ponto chegou o nosso pobre país.

Beijinhos
Mariazita

Lourdes disse...

Luís
O nosso país chegou a isto: Um nojo , uma vergonha,... A única coisa que se aproveita é podermos estar aqui a mostrar a nossa indignação. Mas já não sei por quanto tempo... Já nem com outro 25de Abril acabamos com isto...
Se calhar temos aquilo que merecemos.
Beijinho
Lourdes

Luis disse...

Queridas Amigas,
Acreditem que me doi imenso este estado de coisas! Até gostaria de as não postar. Mas importa informar as "gentes" a ver se acordam ... Sei que não é o vosso caso mas há muita que precisa de um abanão!
Obrigado pela Vossa visita pois isso anima quem por cá anda!
Um beijinho muito amigo.

A. João Soares disse...

Caro Luís,

Não podemos fechar os olhos e os ouvidos, como alguém defende, porque nós estamos a sofrer as consequências e a solução depende de nós, porque, pelo menos teoricamente, estamos em democracia(poder do povo).

A Justiça cruza os braços como se vê no post As peias do legalismo.

A comparação com os militares não se aplica. A igualdade de uniformes é castrante e não redunda no estimulo e no aproveitamento de valores individuais. É preciso liberdade pessoal interpretada de forma positiva e sempre subordinada ao respeito pelos outros.
Desde há 36 anos as coisas de civismo, educação, etc, pioraram drasticamente, porque em vez de liberdade apareceu a libertinagem, a falta de respeito pela liberdade dos outros. Em vez de deveres e direitos passou a falar-se apenas de direitos. Em vez de sentido do dever, das responsabilidades e do respeito pelos outros, passou a haver o desejo de igualdade nos benefícios sem se procurar merecer. Igualdade perante a lei e perante as oportunidade de emprego, etc, está muito correcto, mas não pode exigir-se igualdade de salário, por exemplo, entre um mau funcionário e outro que é eficiente, produtivo, inovador, dedicado às suas funções, respeitador não é praticável nem socialmente justo.

Quanto à falta de qualidade dos políticos, ela é lógica e resulta da sua formação na «universidade Jota». Não gostam de estudar e a inscrição na Jota dá-lhes garantia de futuro rentável, de milionários sem nada fazerem a não ser agradar ao líder, fazer-lhe uns jeitos, umas loas. A licenciatura e outros títulos recebem-nos depois em troca de favores a uma Independente ou Nova, etc. Vê o currículo do boy a que se refere Ana Gomes em Companheiros duvidosos.

Realmente não se pode esperar muito desta gente. São todos coniventes, porque todos têm Telhados de vidro, desgraça de Portugal.

Um abraço
João

Luis disse...

Caro João,
Já tive oportunidade de ir visitar os post's que referes e neles deixei os meus comentários. Sinceramente o nojo é tão grande que setou sempre nauseado quando penso "neles"!!!
Um abraço amigo.