Há um
economista que não deixa ninguém indiferente. Chama-se Hans-
-Werner Sinn. Dirige o
maior instituto de investigação económica germânico, sediado em Munique. Tem
sido o campeão das políticas de austeridade. É um firme opositor dos planos de
resgate e acusa o Governo de Merkel por não ser suficientemente duro para com a
periferia. Apesar da barba lhe dar um ar de clérigo islâmico, a verdade é que a
inflexibilidade de raciocínio e a teimosa indiferença face aos sinais da
realidade remetem-no para o universo da Schwärmerei, uma forma germânica de
fanatismo, sempre com consequências devastadoras para a Europa. Este homem
liderou um estudo sobre o estado da economia europeia acessível na Internet
("The EEAG Report on the European Economy 2013"). Enquanto
percorríamos as ruas em protesto nas cidades portuguesas, Sinn explicava a um
jornal espanhol as teses centrais do estudo: a austeridade na periferia
europeia vai durar, pelo menos, mais dez anos. Mais concretamente:
"Espanha, Portugal e Grécia necessitam de uma desvalorização interna de
30%; a França, de 20%; a Itália, uma descida de preços de 10%." Mas Sinn
vai mais longe, considerando que a Espanha talvez possa permanecer na Zona
Euro, mas tanto a Grécia como Portugal estão condenados a sair do euro:
"As atuais exigências europeias sacrificam uma geração ao desemprego
maciço. Portugal está numa situação semelhante." Para nós, as palavras de
Sinn têm a vantagem de colocar o debate no seu fulcro. O que está em causa não
é o prolongar por mais um ano a meta do défice, mas saber se Portugal aceita
continuar por esta via que faz da pobreza um objetivo de política pública, e
onde, no final, acabará por perder a própria alma. Aquilo que confere a uma
nação o direito de existir.
por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES
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