Hoje ao ler o Correio da Manhã deparei com dois artigos de opinião dos quais respiguei parte dos mesmos e que se conjugam numa análise muito oportuna do momento que vivemos.
Mostram bem quanto os nossos políticos e governantes estão descredibilizados pelas atitudes que têm vindo a tomar ao longo dos tempos. Na sua essência afirmam que estes deveriam afastar-se definitivamente do palco da política para dar lugar a novos intervenientes mais lúcidos e honestos para poderem dar o rumo a Portugal que se impõe e é espectável por todos nós.
Assim eis o que extraí de cada um desses artigos:
- Estado de Direito
A crise económica e social e a instabilidade nos países da União Europeia são hoje evidentes, mesmo naqueles que são países "dominantes" e que, de alguma forma, vão reajustando as suas economias.
Por:Paula Teixeira da Cruz, Advogada
Não restam hoje dúvidas de que nos encontramos a percorrer um caminho que nos levará a alterações radicais da forma de viver que adquirimos nestes últimos trinta anos, com perspectivas de forte degradação social, em ambiente propício a todo o tipo de excessos (...)
(…) Nunca, na história da nossa Democracia, esta esteve tão em causa. Nunca os direitos, liberdades e garantias estiveram tão fragilizados, tão dependentes do destino do económico. E nunca a descrença em tudo e em quase todos foi tão generalizada. Somos um País deprimido, profundamente deprimido e aparentemente desistente, mergulhado em discussões acessórias e em risco de perder o principal de vista.(…)
(…) Nestes últimos anos, a funcionalização da sociedade foi-se tecendo, a insensibilidade social campeou, interesses particulares sobrepuseram-se ao interesse público, o "amiguismo" devastou instituições e a independência vai-se pagando cada vez mais cara, por aqueles que a ousam ter.
É essencial que não se perca a cidadania no meio das subversões e conturbações sociais a que vamos assistir, como é essencial que não se deixem cair os valores necessários a uma tão necessária quanto difícil refundação do sistema democrático. Só assim poderemos estar aptos a reconstruir um modelo social que preserve o Estado de Direito que agora ameaça seriamente esboroar.
Há que ter a coragem necessária para enfrentar a realidade tal como ela é e não para a continuar a esconder. Nada nos preparou para isto, o que torna tudo mais difícil. - Que podes fazer pelo País!
Sabemos neste dia de sol que já temos um orçamento aprovado, mesmo com erratas a corrigir saldos contabilísticos. Os mercados internacionais, os nossos donos, aqueles que capturaram a nossa soberania, já podem dormir descansados.
Por:Rui Rangel, Juiz Desembargador
Mas o pior está para vir com a execução orçamental. Este é o passo mais difícil porque ninguém acredita no cumprimento das metas propostas para o ano de 2011.E é a execução orçamental que vai mexer com a vida das pessoas.
Manda a justiça das virtudes e da ética que se diga que estamos mais pobres e mais endividados. Mas temos um orçamento arrancado a ferros. Toda a gente tem medo de assumir a sua paternidade, já nem na fotografia querem ficar. Que eu saiba a fotografia com o rosto dos dois "secúlos", expressão que significa o mais velho, nada prova de comprometedor, para além, obviamente, daquilo que já se comprometeram no processo negocial. É uma norma de cortesia e de civilização entre os homens de bem, que tem acompanhado a história do povos.
Quando os políticos da nossa praça chegam a este ponto, querendo esconder-se atrás do biombo, das duas uma: ou estão envergonhados com aquilo que estão a fazer ou não estão de boa-fé.(…)
(…) A estória da fotografia pode parecer um assunto sem importância. Mas não é assim. É um princípio importante. Ninguém convida para sua casa uma pessoa que depois tem vergonha ou medo de registar o acto. Espelha o que os políticos pensam deles próprios e do País. E é por estas e outras que a imagem e a credibilidade dos políticos já viveram melhores dias.
A falta de qualidade, a ausência de grandeza e a lassidão moral do debate sobre o orçamento, a que todos assistimos, com tiradas de vão de escada e com as gargalhadas e insultos habituais entre os deputados, explica a vergonha da fotografia.
O ódio político em muitos rostos da "deputação" está nos antípodas das nobres linhagens políticas de outros tempos.(…)
(…) O que se pode fazer pelo País é, antes de tudo, varrer com os políticos medíocres em nome da qualidade da democracia.
Razão tinha o nosso Eça quando dizia que "os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão".
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