02/01/2010
O FIM DOS COLÉGIOS MILITARES?
O Colégio Militar (CM) é, entre as instituições existentes, uma das mais antigas da nação. Tem provas dadas, lastro, tradição e deu ao país e às Forças Armadas um conjunto alargado de cidadãos de qualidade, que se distinguiram nas mais diversas profissões.
Mas entre os portugueses existe uma especial apetência para deitar abaixo, num credo, aquilo que levou tantas gerações a edificar. O último caso que nos lembramos foi a extinção do Supremo Tribunal Militar fundado, em 1641 e que só perdia em antiguidade - creio – para as Misericórdias. Uma cretinice alvar!
É, pois, típico na sociedade portuguesa não se atalhar os problemas a tempo. Finge-se que não se vê e assobia-se para o lado, numa demonstração repetida de que o “rei não precisa de usar roupa”.
Tal facto não acontece por acaso e encontra fundamento na desconfiança com que são olhados aqueles que levantam problemas ou põem dedos em feridas. São logo encarados como “portadores de más notícias” e como tal equiparados a “leprosos”. Deste ponto a tentar-se, objectivamente, prejudicá-los na sua vida profissional e até privada, vai apenas um passo.
Do mesmo modo a frontalidade e a lealdade são vistos como afrontamento e impertinência… Estes comportamentos não são de agora, mas de sempre. A natureza humana é muito imperfeita. Os problemas tendem assim a deslizar de uns para os outros, sucessivamente, até que rebentam.
Os problemas do CM começam dentro da própria Instituição Militar. A primeira grande questão tem a ver com o facto, de que há muito a esta parte, se dever ter encontrado uma fórmula equilibrada para os três estabelecimentos militares de ensino secundário dependerem do CEMGFA, com os custos repartidos pelos três Ramos, em vez do ónus recair exclusivamente no Exército.
Depois é necessário que exista um orçamento adequado para gerir e manter três colégios de qualidade com ensino personalizado e um conjunto de actividades que mais nenhuma escola pública, ou privada, dispõe no país. Neste âmbito tem que se alterar também as restrições à contratação de civis, nomeadamente vigilantes – uma das causas, seguramente, dos problemas analisados pela PGR – restrições estas que já levam inclusive a que se tivesse que passar a contratar empresas em outsourcing para servir as refeições, limpeza, portaria e jardinagem. Noutro âmbito é fundamental que a lei seja modificada para permitir a mobilidade e reconversão de trabalhadores.
Os problemas sociais que a sociedade actual comporta e a desestruturação acelerada das famílias, aumentou exponencialmente os problemas do foro psíquico e social o que exige determinados valências, que os meios ao dispor dos colégios, dificilmente comportam. Não é a mesma coisa, por exemplo, ter alunos que são enquadrados fora do colégio em termos familiares e outros que pura e simplesmente são “despejados” nos internatos.
Arranjar instrutores e oficiais do Corpo de Alunos é outro problema. Além de nem todos terem perfil para prestar serviço num estabelecimento deste tipo, muitos não querem passar por lá, pois preferem outras opções profissionais. Além disso o Exército preparou oficiais para missões distintas – o seu “core bussiness” - que custou muito dinheiro e esforço, aptidões essas que não têm aplicação nos CM. Por outro lado há questões do foro pedagógico de que é preciso dar a conhecer a oficiais que vão lidar com jovens dos 10 aos 17 anos.
Acresce a tudo isto que existe dificuldade de recrutamento de novos alunos e só uma muito pequena percentagem destes é que depois vão concorrer às Academias Militares.
As tradições académicas neste tipo de escolas têm vantagens evidentes – embora hoje em dia não seja politicamente correcto admiti-lo – mas que, para serem adequadas, necessitam de organização e supervisão. E estas não comportam qualquer tipo de agressão ou actividades indigna de um ser humano escorreito, que devem (e já são) ser excluídas e punidas.
Problemas existem e são mais que muitos, como decorre da natureza humana, por isso devem ser atalhados a tempo, antes de saírem fora de controlo ou causarem danos irreparáveis.
Com isto dito, necessário se torna ter a consciência que a situação dos colégios militares está a anos-luz para melhor do que a generalidade das escolas ou colégios secundários, de todo o país, cujas maleitas não caberiam descritos nas páginas de qualquer jornal ou revista.
Agora vamos à parte mais séria da questão. Com a Instituição Militar em diminuição constante e aperreada em constrangimentos humanos, materiais e financeiros, conjugam-se a nível do país, várias forças para atacarem os colégios militares e entre eles, especialmente o CM.
Em primeiro lugar o espectro partidário que vai do PS à extrema-esquerda odeia, em termos ideológicos, a ideia da existência de colégios militares. Causa-lhes até erupções de pele e outros fenómenos do foro psicossomático. Com uma nuance: o PCP não hostiliza (porque sabe o que anda a fazer) e não lhe desagradaria ter colégios militares, desde que, obviamente lá se ensinasse o materialismo dialéctico, o socialismo científico e o internacionalismo proletário.
Fazia parte do manifesto eleitoral do PS quando foi formado – é bom lembrar – a extinção dos colégios militares. O PS aliás, dá-se mal com tudo o que cheire a fardas, autoridade e disciplina. Os “bloqueiros” estão muito activos, no momento. São uns infelizes desorientados, nunca construíram nem construirão coisa alguma, só sabem atear fogos. Ouve-se dizer que odeiam a sociedade, eu penso que se odeiam a si próprios.
Do PS para a direita, pura e simplesmente não existe ideologia: sente-se com a carteira e pensa-se com as tripas. Estamos conversados, portanto.
A seguir temos a questão da especulação imobiliária. Os colégios ocupam terrenos privilegiados, novamente com destaque para o CM, cerca de 13 hectares em zona de grande valor. Ora isto representa milhões e milhões de euros; oportunidades de negócio para amigos, eventual atenuação de dívidas camarárias, chorudos financiamentos, etc., enfim o paraíso para os do costume.
Perante isto, que valem três colégios cuja mais valia é lançarem no mercado de trabalho ou nos cursos superiores, umas dezenas de cidadãos com formação de elite que tanta falta podem fazer ao nosso desfigurado país? Acertaram, são perfeitamente dispensáveis!
Finalmente, teremos que voltar à doutrina e à ideologia (o mais importante de tudo). Em alfurjas secretas e discretas, combinam-se estratégias, orientações e objectivos. Ora os valores ensinados e instilados nos colégios militares (até ver), são valores patrióticos, de carácter e honradez; valoriza-se a família, o trabalho, as instituições. A religião é respeitada, os heróis são venerados, a nação está acima dos partidos, o grupo prefere ao indivíduo sem estrangular a individualidade, etc.
A liberdade sendo um conceito absoluto tem uma aplicação relativa, a caridade prefere à fraternidade e a igualdade resume-se apenas às oportunidades, pois todos são diferentes. Existe hierarquia, organização e autoridade. Tudo isto gera uma ordem. Esta ordem liberta mais do que oprime. Ora tudo isto forma cidadãos considerados perigosos, para os tais das alfurjas.
Julgo ter sido suficientemente explícito. Os colégios militares não devem acabar. Mas podem tentar fazê-lo. Convém pôr as barbas de molho.
João José Brandão Ferreira
TCor/Pilav (Ref)
27/10/09
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3 comentários:
No PORTUGAL de hoje
fazer uma referência elogiosa
aos seus soldados,
às suas Forças Armadas
e à memoria dos que combateram pela PÀTRIA
é "politicamente incorrecto" !
Os poucos que o fazem
precisam de ter coragem
e merecem o meu apreço.
Duarte Fontoura
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