
"Acho que os meus dias seriam uma chatice sem isso", diz Francisco Sepúlveda, de 15 anos, aluno do oitavo ano no Bronx, que usa o smart phone para navegar na Web, ver vídeos, ouvir música... e enviar ou receber cerca de 500 mensagens de texto diariamente...
... o estudo constatou que a intensa utilização dos média está associada a vários aspectos negativos, como problemas comportamentais e notas baixas... 47% dos mais intensos utilizadores de média (consomem pelo menos 16 horas por dia) tinham, na maioria, notas sofríveis ou más, comparados com 23% dos que consomem três ou menos horas. Os maiores utilizadores de média tinham mais probabilidades do que os seus congéneres moderados de se declararem aborrecidos ou tristes, de se meterem em sarilhos, de não se darem bem com os pais e de não serem felizes na escola... O relatório baseia-se num estudo junto de mais de 2 000 alunos do 3.º ao 12.º ano e foi realizado de Outubro de 2008 a Maio de 2009. Em média, os jovens passam cerca de duas horas ligados a um dispositivo móvel, revelou o estudo... Passam quase outra hora completa com conteúdos "velhos" como televisão ou música... Os jovens passam agora mais tempo a ouvir ou ver conteúdos, ou a jogar nos seus telemóveis do que propriamente a falar. "Uso-o como despertador, porque tem um toque irritante que não pára até ser desligado", diz Francisco Sepúlveda do seu smart phone. "À noite, posso enviar mensagens de texto ou ver qualquer coisa no YouTube até adormecer. Permite-me falar ao telefone e ver um vídeo ao mesmo tempo, ou ouvir música enquanto envio mensagens."
A mãe (diz): "Acho que ele o usa 2% para trabalhos de casa e 98% para o resto", diz ela. "Ao princípio, tirava-lho às 22h e dizia-lhe que não o podia usar mais. Agora, ele sabe que, se não respeitar, posso cortar-lhe o acesso ao serviço durante uma ou duas semanas. Já aconteceu."
O estudo Kaiser descobriu que mais de sete em cada 10 jovens tem um televisor no quarto e que cerca de um terço tem lá também um computador com acesso à internet. "Os pais nunca sabem tanto como pensam sobre o que os filhos andam a fazer", diz Roberts, "mas agora criámos um mundo em que eles estão muito mais afastados de nós e os pais não fazem ideia do que os filhos estão a ouvir e a ver nem sobre o que falam".
O estudo constatou que os jovens usam menos media em lares onde há regras como televisão desligada durante as refeições e nada de televisores nos quartos, ou com limites de tempo.
Victoria Rideout, vice-presidente da Kaiser e principal autora do estudo, diz que, embora se tenha tornado mais difícil aos pais controlarem os filhos, a sua actuação pode continuar a ter efeitos. "Não acho que os pais devam sentir-se incapacitados", diz ela. "Podem continuar a estabelecer regras e isso ainda marca a diferença."
Em Kensington (Maryland), Kim Calinan deixava o seu filho Trey, ainda bebé, ver vídeos da "Baby Einstein" enquanto tomava duche e fazia o jantar, e depressa o passou para "Dora the Explorer". "Aos 4 anos já tinha imensos DVD de matemática e ciência, nos quais navegava sozinho e aprendeu a ler e a fazer contas muito cedo. Por isso, se tivéssemos esta conversa nessa altura, eu teria dito que são óptimos auxiliares educativos", diz ela.
Mas agora que Trey tem nove anos e é maluco por jogos de vídeo, Calinan pensa de outra maneira. Em 2009, apercebeu-se de que os jogos de vídeo estavam a ser substituídos por outros interesses e a restringir-lhe a interacção social. Depois de perceber que Trey não se queria inscrever em nenhuma actividade extra-escolar para não prejudicar o tempo dedicado aos jogos, Calinan limitou-lhe o tempo à frente do ecrã a hora e meia por dia, e só aos fins-de-semana. Por isso, na quarta-feira passada, Trey chegou da escola e leu um livro, "Secret Hiding Places", mas disse que ansiava pelo fim-de-semana para jogar o seu jogo preferido, "Pokemon Mystery Dungeon: Explorers of Sky".
Muitos peritos consideram que a utilização dos media está a mudar as atitudes dos jovens. "Mudaram os pressupostos dos jovens sobre a maneira de obterem respostas a perguntas", diz Roberts. "As pessoas podem pôr um problema, quer ele seja 'Onde há um bom bar?' ou 'Será que estou grávida?' e as informações chovem de todos os tipos de fontes." Os maiores utilizadores de média, revelou o estudo, são crianças pequenas e jovens adolescentes entre os 11 e 14 anos, de raça negra ou hispânica. E o Twitter ainda não existia.